Resenhas

Mumford & Sons – Wilder Mind

Terceiro álbum mostra que a banda fez seu êxodo rural-musical

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Ano: 2015
Selo: Island
# Faixas: 12
Estilos: Pop Rock, Rock Alternativo, Pós-Punk
Duração: 48:43
Nota: 4.0
Produção: James Ford

Em primeiro lugar, aqui vai um aviso: Mumford & Sons está morto! Viva Mumford & Sons! A sensação que temos ao ouvir este Wilder Mind, tendo em mente o ideário do grupo, é semelhante a de alguém que chega à cidade grande, vindo do interior e se instala para ficar. Saem de cena os banjos e ritmos decalcados do século 19 e as canções com apelo Folk tradicional e chegam os derivados do Rock urbano oitentista tradicional, que são a mola propulsora de 95% das formações em atividade no cenário musical hoje. Teria sido uma má escolha para Marcus Mumford e sua gangue a opção por essa sonoridade mais banal em detrimento de sua química musical de antes? Ou a mudança se deu na hora certa, quando já surgiam vários clones e subclones da mesma cartilha?

A resposta é simples: sim. Foi uma decisão acertada e que expande os horizontes do grupo, que, dificilmente deixará de revisitar os sucessos do início da carreira ao vivo e ainda oferecerá algo com personalidade suficiente nesta nova fase. Vocalista com timbre característico e dramático, Mumford está em ótima forma e as novas canções ainda obedecem a uma característica importante do grupo, a de serem talhadas especialmente para cantorias em espaços abertos, estádios e arenas em geral, naquele clima de emoção e explosão no refrão.

Sendo assim, urbana e dramática é a música que sai das caixas de som enquanto Wilder Mind é escrutinado. A produção de James Ford, que ajudou outra banda a fazer seu êxodo rural em segurança, no caso, Kings Of Leon, também funciona bem como condutor dessa empreitada, reforçando especialmente a pujança da voz de Mumford. Sendo assim, felizmente, a banda escapa da síndrome pós-Folk e não se torna um Suricato gringo ou um Bon Jovi em fim de carreira, supostamente revisitando alguma influência perdida.

As canções são bem arranjadas e executadas de forma precisa. O que antes era catarse pulante se torna dança angustiada diante de temas novos e instrumentalizações novidadeiras. A abertura com Tompkins Square Park é emblemática neste sentido. Entram as boas e estridentes guitarras, suportadas por uma bateria rapidinha e um baixo pulsante, enquanto o título alude a um parque em Manhattan, musa inspiradora mais ou menos discreta do disco e modelo estético adotado em termos de cidade grande. Believe, single lançado em meio a imagens noturnas de Londres, é outra ode à vida rápida e curta no habitat urbano, fascinante e letal ao mesmo tempo, com seus teclados épicos decalcando mais um instrumental pós-punk revisitado, ainda que evoque algo das composições iniciais da banda, mas devidamente misturados com algo da solenidade de U2 fase Joshua Tree, terminando com algo que The Killers fariam sem qualquer problema. The Wolf, outra faixa conhecida, também tem levada aerodinâmica e oitentista ao extremo, soando mais como homenagem que mera cópia de algo. Ao mesmo tempo, há um quê de balada noventista em algum lugar, enguitarrada e bem urdida.

A faixa título já oferece um outro caminho de mudança. Com cadência dançante e intervenções pontuais de teclado, soa como uma canção perdida de formações como Counting Crows. A melhor faixa vem logo depois, Just Smoke, que mistura os novos e os velhos tempos, com refrão cantado em coro e explodindo a partir da segunda metade. Monster é a menos interessante do álbum, dando lugar a mais uma faixa climática, Snake Eyes, que mistura paisagens noturnas de uma auto-estrada com bateria eletrônica semi-Country, desaguando na revisionista e evocativaBroad-Shouldered Beasts, outra ode à Manhattan, que vai resultar na arrepiante Cold Arms, balada de voz e violão nada Folk, cheia de imagens cicatrizantes sobre o fim dos relacionamentos amorosos. Ditmas é outra levada estradeira com bateria eletrônico-humana, com refrão enguitarrado, deixando o final para a tristonha e sintética Only Love, que resume a sonoridade do álbum. Noturna, propulsionada por guitarras, alternando silêncios iniciais e catarse instrumental a partir da metade.

Wilder Mind deve agradar a fãs e arrebanhar novos admiradores. Mesmo que alguns reclamem por algo que ficou para trás, haverá motivos de sobra para seguir acompanhando a banda por novos-velhos caminhos.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.