Resenhas

San Fermin – Jackrabbit

Grupo abandona aos poucos seu aspecto sisudo e ganha a leveza que precisava

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Ano: 2015
Selo: Downtown Records
# Faixas: 15
Estilos: Chamber Pop, Baroque Pop, Post-Rock
Duração: 42:50
Nota: 4.0
Produção: Ellis Ludwig-Leone, Peter Katis

Quando Ellis Ludwig-Leone apareceu, ainda em 2013, com a estreia de seu projeto San Fermin em um álbum homônimo, a primeira característica que pudemos perceber foi o aspecto clássico de suas composições e, consequentemente, o ar sério e sisudo que denotava o trabalho. Agora, com seu segundo lançamento, intitulado Jackrabbit, a evolução de sua coesão sonora se torna aparente e, assim, o grupo de Chamber Pop vai deixando, aos poucos, suas câmaras fechadas e herméticas para o passado.

Não que San Fermin tenha abandonado repentinamente seus trejeitos românticos e suas pretensões literárias. De fato, ainda temos ainda temos Ludwig-Leone – um compositor de formação Clássica – como cabeça do projeto, a voz barítona de Allen Tate dando a gravidade às canções e o seu conteúdo complexo e sobrecarregado (se, por exemplo, em San Fermin tínhamos 17 faixas, agora, com Jackrabbit, ainda resistem 15 músicas que somam mais de 40 minutos de duração). Ainda temos, também, uma aposta na estética maximalista, com uma grande quantidade de instrumentos, arranjos e vozes disputando espaço dentro do espectro sonoro de cada música. Mas, a principal diferença, uma evolução através do desapego, é o abraço ao aspecto Pop que o grupo sempre teve, e, consequentemente, a uma faceta mais leve e despretensiosa.

Temos em Jackrabbit (a faixa-título, aliás, é o melhor exemplo dessa nova etapa) uma evolução direta da canção Sonsick do álbum anterior. Agora, San Fermin aposta mais em rúidos eletrônicos, mais batidas Pop e guitarras distorcidas, um sintoma que parece advir da descentralização de poder de Ludwig-Leone, e uma maior democratização dos oito integrantes de San Fermin como uma banda. O principal sintoma dessa nova fase é a bateria que “desiste” de tocar no começo da primeira faixa (The Woods), que entrega (muito provavelmente por acaso) esse “desapego” positivo que a banda ganhou com o tempo.

A dicotomia entre o Chamber e o Pop se torna quase explícita na divisão dos faixas, inclusive na ordem em que essão encadeadas no álbum: temos Allen Tate como representante da parte grave, séria e clássica que San Fermin sempre teve, e Charlene Kaye como porta voz da leveza Pop e colorida do grupo. Nada melhor para representar a evolução San Fermin do que o jogo de suas capas. Se antes havia a virilidade do touro e o sangue escuro e viscoso das touradas, agora temos uma lebre, muito mais ágil e delicada dividida entre a seriedade branco e preto de sua pele e a modernidade colorida de de seu interior dourado.

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BOM PARA QUEM OUVE: Swans, The National, Sufjan Stevens
ARTISTA: San Fermin

Autor:

é músico e escreve sobre arte