Resenhas

Passion Pit – Kindred

Terceiro disco do grupo homenageia lado Pop colorido dos anos 1980

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Ano: 2015
Selo: Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica, Dance Alternativo
Duração: 37:39
Nota: 4.0
Produção: Chris Zane, Alex Aldi, Benny Blanco e Michael Angelakos

Michael Angelakos, o cérebro por trás de Passion Pit, nasceu em 1987. É engraçada a fixação que esse pessoal tem pelos anos 1980. Não era tudo o que pensam, não era tão legal e brilhante quanto a memória afetiva da mídia nos faz pensar. Se você – como eu – teve a chance de viver a década de cabo a rabo, vai achar peculiar o quanto a música daquele tempo soa atrativa para integrantes da Geração Y. Angelakos, coitado, não tem culpa de se amarrar na memorabilia digital da época. Deve pensar que Synthpop é o máximo em termos de uso da Eletrônica na música Pop e imaginar que todo o planeta pulava até o amanhecer em pistas de dança aqui e ali. Deixando de lado o exagero do que chega para nós hoje, pleno 2015, talvez dê para pensar que aqueles dez anos, na verdade, foram bem diferentes e não foram dominados por singles de Phil Collins nas paradas de sucesso e por um Michael Jackson embranquecido, zumbizando e posando de mau em álbuns como Bad.

Angelakos, já disse, não tem culpa. Passion Pit, seu grupo de um homem só, aumentado quando se apresenta ao vivo, é um produto do nosso tempo e consegue ser bem eficaz em sua proposta, que é, claro, recriar ambiências oitentistas com o tanto de novidade e ineditismo em doses suficientes para encantar quem também pensa nos “80’s” como o eldorado comportamental, cultural e musical do qual já falamos. Para isso, ele conta com uma parafernália tecladeira e cibernética capaz de recriar climas e coloridos melódicos, chegando em resultados satisfatórios e agradavelmente distantes da porradaria Techno que muitos insistem em entregar hoje em dia. Passion Pit tem um poderoso diferencial: um apego amoroso ao Pop oitentista, provavelmente o que a década tinha de melhor, o colorido, o encontro ainda novo entre imagem e som via MTV e tudo o que se criou a partir dessa perda de inocência, que daria onde estamos hoje. Nesse caminho, de fato, houve tempo para produzir coisas interessantes, geralmente obscurecidas pelas tendências, algo do que Angelakos abre mão neste arejado Kindred, seu terceiro álbum.

Pulemos a bandeirosa – mas eficaz – faixa de abertura, Lifted Up (1985) e observemos um exemplo em termos de leveza, logo na terceira faixa, a popíssima Where The Sky Hangs. Com cara de canção de grupos como New Edition, que era uma formação no estilo boy band de meninos negros, que sabiam cantar e tinham talento, as melodias, arranjos e tudo mais eram produto de uma indústria do entretenimento com falhas, mas competente na entrega e na excelência. Passion Pit recria esse clima com precisão. All I Want, a faixa seguinte, segue pelo mesmo caminho popérrimo, com pinta de sucesso nas FM’s (lembram disso? Emissoras de rádio!) de lugares como a Flórida ensolarada. O amor total explode em canetinhas coloridas com a doçura baladeira e climática de Dancing On The Grave, cheia de crescente de teclados e tom de paz mundial entre os povos, disfarçada com letra de angústia juvenil. *I can’t stay here”, ele canta na dose exata de confusão e medo. Funciona.

É claro, não há somente o amor pelo descartável bem feito e Angelakos abraça a sonoridade produzida pela funkficação do Rock eletrônico de então, personificada em Five Foot Ten (I), com vozes sintetizadas e batida reta ou em Until We Can’t, com afetação e paletós com ombreiras aqui e ali. Looks Like Rain é um cubo de açúcar de parada de sucesso, tristonha e contemplativa. A inesperada My Brother Taught Me How To Swim parece feita em teclados infantis intencionais, ingênua e auto-afirmativa, abrindo caminho para o encerramento com Ten Feet Tall (II), épica e solene, guardadas as proporções.

Ao longo das dez canções e da ingenuidade (intencional?) de Passion Pit em querer entregar um álbum oitentista eminentemente Pop e descartável, mas 100% autêntico em suas fontes de inspiração, me pergunto se o esforço de Angelakos não é válido. Eu acho que é, mesmo que não seja original em um único momento. E você? O que acha?

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.