Resenhas

Tyler, the Creator – Cherry Bomb

Disco oscila bastante, mas mostra fase de transição na carreira do rapper ao tentar seguir caminho singular e próprio

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Ano: 2015
Selo: Odd Future Records, Sony
# Faixas: 13
Estilos: Rap, Hip Hop
Duração: 54:04
Nota: 3.5
Produção: Tyler, the Creator

Na metade da faixa de abertura de Cherry Bomb, quarto álbum de estúdio de Tyler, the Creator, o rapper diz: “I don’t like to follow the rules and that’s just who I am/ I hope you understand”. O estilo caótico e colérico de Tyler não é necessariamente uma novidade e talvez a grande lição que ele possa absorver de seu novo trabalho seja a de que as pessoas já conhecem essa faceta de sua personalidade há muito tempo e agora é hora de seguir o seu caminho por outras formas.

Não que o rapper não busque isso nesse álbum. Tyler tenta fugir de seus estigmas musicais ao criar faixas que fogem muitas vezes do que conhecíamos ao flertar com o Punk Rock, o R&B e o Jazz – alguns dos melhores momentos de sua carreira. No entanto, sentimos a falta de um cuidado lírico em suas letras e percebemos um certo desleixo em algumas faixas que assustam e desagradam mais do que interessam ao ouvinte.

Ouça, por exemplo, a faixa título – uma clara influência da agressividade notória de Death Grips – e que também sempre esteve presente em sua carreira. Nela, a voz do rapper quase que se esconde no meio de um turbilhão de distorção e bateria, sem trazer nenhum envolvimento ao ouvinte. Tyler quer chocar, mas, no auge de seus 24 anos, isso não deveria ser uma força motriz e sim justamente o esperado, o comum. Por isso, temos um sentimento misto desse álbum, que também tem músicas únicas e deliciosas que puxam justamente os momentos mais melódicos de seu excelente último disco, Wolf.

A comparação com esse disco é inevitável, pois foi a obra que mostrou não só a sua capacidade de fazer um som pesado, mas também de conseguir trazer leveza e melancolia. Com um clara história por trás de suas faixas e ordenamento dentro do disco, Wolf é o trabalho mais consistente de sua carreira, apesar de ainda ter todos os elementos caóticos que sempre a abraçaram. Esses elementos reaparecem aqui no meio da cólera, mas não convencem por perderem a linha entre cada faixa – uma conhecida montanha-russa que, nesse caso, acaba sendo prejudicial. Faixas como as jazzísticas FIND YOUR WINGS, BLOW MY LOAD e a excelente 2SEATER são claros exemplos de como as suas habilidades de produção evoluíram em belos arranjos e faixas extremamente grudentas, no entanto, não sustentam o disco todo por outros baixos momentos e não contam uma história entre si, funcionando muito bem sozinhas.

Mostram que existe espaço para o rapper explorar outras sonoridades e ser muito bem-sucedido. Ao mesmo tempo, o Rap usual de Tyler aparece em uma parte de 2SEATER com arranjos e rimas que fariam Flying Lotus viajar enquanto BUFFALO, faixa que mais remete à sua carreira como um todo, é agressiva, chapada e, mesmo com as mesmas letras sobre homofobia, drogas e a repetida rebeldia, chama igualmente atenção pelas suas qualidades musicais. Entrentanto, o que acaba incomodando é a essa transição entre momentos consistentes e outros nem tão relevantes assim, como PILOT ou OKAGA, CA, por exemplo.

DEATHCAMP, a abertura, tem os elementos de Rock que poderiam colocar Tyler a frente de um projeto de Punk Rock e é um bom alívio em sua carreira, enquanto THE BROWN STAINS OF DARKEESE LATIFAH PART 6-12 tem um ar contemporâneo e minimalista que chama atenção por manter o peso de sua carreira trazendo algo realmente novo e coeso. SMUCKERS provavelmente é o melhor momento de todo disco ao trazer uma parceria interessante com Kanye West e Lil Wayne, dois rappers do alto escalão do gênero que mostram que Tyler tem respeito nesse meio musical e esteja no caminho certo para o topo. A transição na faixa, o excesso de texturas e sua atmosfera viajante mostram que toda a sua criatividade consegue ser concentrada em grandes momentos e não somente em sua já exaurida “rebeldia”.

A verdade é que, diante de um coletivo (OFWGKTA) que se mostra cada vez mais unitário com os caminhos seguidos por Earl Sweatshirt e Frank Ocean (dois dos maiores parceiros do rapper e que não fazem nenhum participação em Cherry Bomb), Tyler também quer seguir seu próprio caminho e sair do estigma do grupo que ele ajudou a criar e liderar. Isso ele consegue fazer ao se aproximar dos momentos mais leves de seu último disco e sucedê-los tanto em produção como em qualidade – ouça, FUCKING YOUNG/PERFECT para perceber que a sua vontade é de expandir seu Rap para outras fronteiras.

No entanto, para sair de sua própria identidade, Tyler, the Creator ainda oscila ao trazer elementos já datados de sua discografia e outros que tentam mudar isso – sem soarem interessantes, mas chocantes no sentido ruim da palavra (CHERRY BOMB, talvez seja o grande exemplo disso). A faixa dos vinte e poucos anos de idade a qual chegou a maioria dos membros do coletivo se consolidou nos caminhos distintos que a vida adulta e as suas responsabilidades trouxeram junto. O grupo de amigos está amadurecendo e se separando, e Tyler não está longe desse processo. Ele está entendendo-o e, sim, oscilando como tal fase da vida permite. Por isso, a sensação de que Cherry Bomb é uma boa transição para algo totalmente novo e interessante, mesmo que tenha as suas fatalidades no meio do caminho.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.