Resenhas

Brian Wilson – No Pier Pressure

Novo álbum é o mais bem acabado trabalho solo do ex-The Beach Boys

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Ano: 2015
Selo: Virgin - EMI
# Faixas: 13
Estilos: Classic Pop, Rock'n'Roll, Power Pop
Duração: 41:16min
Nota: 4.0
Produção: Brian Wilson

Quando começaram a pipocar as faixas que antecipavam o lançamento de No Pier Pressure, uma certeza desafiadora teimava em invadir o coração do velho crítico musical. “Este é o melhor disco solo que Brian Wilson já fez”, dizia uma voz harmoniosa e afinada. E o velho crítico, cá com seus botões, desconfiava. Seria possível que Brian transformasse sua carga emocional e nostálgica num álbum contemporâneo? Sim, porque a maior dificuldade dele desde que retornou dos mortos em 1988, foi equilibrar as linhas temporais do ontem e do hoje. Era tudo explicável, claro, os tempos idos, a glória americana máxima de The Beach Boys, o colapso nervoso, o afastamento, a perda dos irmãos e o retorno ao disco. Tudo isso em pouco mais de duas linhas de texto ou, em termos de tempo transcorrido, mais de 20 anos.

As tais canções lançadas eram convidativas, quentinhas como colo de mãe ou bem humoradas como uma conversa que se tem com quem estamos perto de nos apaixonar. A primeira, The Right Time, veio com participação do companheiro beach boy Al Jardine, que mantém sua voz quase intacta após mais de 50 anos de canto. Coincidentemente, a melodia e os arranjos vocais não mostravam muito além de uma belezura cheia de ganchos pop e harmonias familiares. A coisa começou a mudar quando foi revelada Runaway Dancer, com vocais de Sebu Simonian, do “grupelho” Capital Cities. Aqui, o negócio aparece bem mais embaixo, com uma levada Pop eletrodançante deslavada e assumida, lembrando alguma coisa dos discos setentistas de The Beach Boys, quando – bingo – a banda procurava manter-se conectada com o que acontecia nas paradas de sucesso. Aqui o clima é o mesmo. Wilson concebe este bailinho dançante contemporâneo e entrega o comando vocal para Sebu, que cumpre seu papel enquanto Brian dá as bênçãos aqui e ali. A redenção e a certeza vieram na adorável terceira música, On The Island, com participação de Zooey Deschanel nos vocais. Dessa vez, o registro de Brian só aparece no refrão e em algumas intervenções ocasionais, deixando para a voz suave – mais firme – de Zooey a função de conduzir o ouvinte por uma levada caribenha/bossa nova fake e contagiante. Nada tão bem humorado surge da pena de Brian desde os anos 1960.

O trunfo de No Pier Pressure é a conexão com o presente. Wilson não está a fim de lamúrias, apesar de refletir sobre tempo e mortalidade lá pelo fim do álbum, em momentos belos como nas quatro faixas que encerram os trabalhos, Somewhere Quiet, I’m Feeling Sad, The Last Song e o singelo instrumental Half Moon Bay, esta com participação do trompetista Mark Ishan. Quase interligadas e com pinta de por do sol num céu cor de rosa, as canções são curtas e só trazem o necessário. Outro momento luminoso é Guess You Had To Be There, em dueto com Kacey Musgraves, cuja voz de menina urbana que canta Country combina bem com as harmonias propostas pelo arranjo, tudo num belo momento Pop dourado. Lado a lado, brilhando em meio aos acertos do álbum, está Our Special Love, cantada com o jovem Peter Hollens, especialista em gravações à capella, certamente inspirado na marca registrada beachboyana dos tempos idos.

É possível você ouvir e gostar de No Pier Pressure sem conhecer um único álbum de The Beach Boys ou trabalho solo de Brian. Para quem já é iniciado na obra do sujeito, o prazer pode – e deve – ser maior e mais completo, uma vez que o álbum funciona como um leve e arejado bate-papo com alguém que vemos e ouvimos com menos frequência do que gostaríamos. E que, de tempos em tempos, nos brinda com boas notícias.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.