Resenhas

Lê Almeida – Paraleloplasmos

Disco lida com fim de um relacionamento sem ser piegas ou demasiadamente pesaroso

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Ano: 2015
Selo: Transfusão Noise Records/Deckdic
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo, Lo-Fi
Duração: 45:56
Nota: 3.5
Produção: Lê Almeida

Não importa se você tem 15 ou 30 anos, fins de relacionamentos são dolorosos. Geralmente, eles envolvem um duro processo de assimilação dessa perda e, não importa sua idade, lidar com esses sentimentos não é uma tarefa fácil. Mas, de coisas ruins, podem nascer as boas, como é o caso de Paraleloplasmos, novo álbum do carioca Lê Almeida.

O músico recentemente rompeu um namoro de mais de três anos e coloca aqui parte da sua dor e de seus sentimentos ao lidar com a separação. Isso não é original para o mundo da música, mas, sem dúvida, é para Lê, que outrora usava temas bem mais triviais como insumo para sua obra. Longe de ser um disco conceitual, as faixas são conectadas por essa temática, trazendo à tona sentimentos como amargura, mas também paixão. Uma linha tênue que é quebrada e confundida por diversas vezes entre a lírica melancólica e as guitarras raivosas do músico.

Letras como “Você não mereceu fidelidade em prol de par/ você só destruiu amor em todo o bom redor/ eu tenho pensado como é ruim sair só” (em Desampar), com a qual o músico abre o álbum, revelam o teor que se segue durante os próximos 45 minutos. “Eu juro, eu tentei não machucar/eu juro, eu tentei não ir atrás/ eu devia atravessar, eu devia não perder a fé/não desanimar/eu juro eu tentei” (Fuck The New School) mostra mais um pouco dessa relação desfeita e de seus desdobramentos para Lê. A universalidade do tema, mesmo que absorvida ou experimentada de maneira subjetiva por cada um de nós, faz com criemos certa empatia com o músico, afinal, quem ainda não passou por uma situação dessas, não é?

Se as letras são melancólicas, a instrumentação nem tanto. Boa parte da obra ainda bebe na fonte do Rock Alternativo dos anos 90, com seus timbres ruidosos, guitarras cheias de distorção e reverberações, acordes vigorosos e uma sujeirinha na produção, dando aquele clima Lo-Fi que ficou tão marcado na época. Se o vocal de Lê segue quase o mesmo tom durante toda a obra, sua guitarra se mostra mais honesta, chorando em alguns momentos, esbravejando em outros, em outros ainda sendo completamente introspectiva e fora da realidade. De certa forma, é como se seu instrumento dissesse mais que o próprio músico em parte do disco.

A surpresa aqui, não bastasse o clima não ser tão pesaroso quanto parece, é a presença de alguns novos elementos na música de Lê. O toque dos violões, teclados e percussão geram um ineditismo interessante na obra solo do músico – um avanço, quando comparado ao seu disco de estreia, Mono Maçã (2011), ou com o EP Pré Ambulatório (2012). O álbum é musicalmente mais ambicioso, mostrando faixas que ultrapassam os oito (Câncer dos Trópicos) ou onze minutos (Fuck The New School), sem se perder dentro de suas próprias narrativas ou se tornando cansativas.

Paraleloplasmos é uma viagem sonora interessante e um bom exercício imaginativo (por parte dos ouvintes) em tentar imaginar o porquê desse nome: seria uma imagem do próprio relacionamento de Lê, em que essas retas paralelas nunca mais se cruzarão; a ideia de letras e arranjos buscarem objetivos paralelos, porém se guiando pelo mesmo caminho; ou mesmo a solidão de ser uma reta sozinha, seguindo assim para o infinito? Assim como cabe a nós lidar com a subjetividade dos sentimentos ao término de um relacionamento, creio que cabe também a nós a liberdade de inventar uma própria interpretação para um nome tão aberto como esse e que intitula um álbum com significados igualmente tão subjetivos.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts