Resenhas

Tobias Jesso Jr. – Goon

Sinceridade e ingenuidade marcam a excelente estreia do músico

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Ano: 2015
Selo: True Panther Sounds
# Faixas: 12
Estilos: Singer-Songwriter, Folk Pop, Indie Pop
Duração: 46:33
Nota: 4.0
Produção: Chet “JR” White, Patrick Carney, John Collins, Ariel Rechtshaid

A consagração da sinceridade artística é o principal triunfo de Goon. Distante do uso de qualquer artíficio, de qualquer floreio técnico, o primeiro álbum do músico canadense Tobias Jesso Jr. embala o ouvinte com facilidade e, assim, nos transporta a uma memória quase esquecida: o valor primordial de uma composição.

Goon foi concebido num período de pós-crise na vida do músico. Após não conseguir viver em Los Angeles e terminar seu relacionamento, retorna para a casa da mãe por conta de um diagnóstico de câncer enfrentado pela mesma. Lá, encontra um piano e começa a aprender o instrumento, e, assim, a compor seu álbum de estreia. Nesse contexto, fica mais fácil entender porque, por vezes, Goon ultrapassa a linha da sinceridade e atinge a ingenuidade. Fica fácil de notar o modo (deliciosamente) receoso de tocar, nada além do básico, como um calouro dedicado ao instrumento. E é justamente por conter canções tão bem resolvidas estruturalmente que suas letras, que dificilmente superam alguns clichês temáticos, funcionam tão bem: canções de amor ou de crise existencial, sejam doces ou dramas melancólicos, mostram que, se quando estamos apaixonados, dizemos coisas como “there’s no future I want to see without you”, é porque, de fato, sentimos isso.

Outra coisa que se nota em Goon é a polidez de sua produção, em comparação às faixas que começaram a aparecer na Internet desde o fim de 2013. Temos no trabalho muito pouco além dos protagonistas piano e voz, é verdade – uma percussão discreta aqui, um arranjo de cordas acolá, um violão que aparece tímido vez ou outra -, mas, se antes aquele charme granulado da versão demo de Just a Dream (no vídeo acima) nos lembrava John Lennon, agora, a gentileza da voz de Jesso Jr. encontra-se mais encorpada e, amparada pelos arranjos da produção, nos leva a um universo mais Paul McCartney início de carreira solo (ouça Crocodile Tears de Jesso Jr. e Monkberry Moon Delight de McCartney).

Mas não importa, o que ainda temos aqui, como prova a capa do trabalho, é a cara estampada de Tobias Jesso Jr. (mesmo que agora com um filtro à la VSCO Cam), e a irrefutabilidade de que a combinação de uma personalidade tímida, melancólica e sensível (que soube beber nas fontes certas) é, na verdade, muito poderosa para a música.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte