Resenhas

Colleen Green – I Want To Grow Up

Segundo álbum da cantora e compositora americana tem cara de “Síndrome de Peter Pan”

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Ano: 2015
Selo: Hardly Art
# Faixas: 10
Estilos: Powerpop, Pop Punk, Guitar Pop
Duração: 36:53
Nota: 3.0
Produção: Jake Orrall

Quando comecei a ouvir este segundo disco de Colleen Green, imaginei que o veredito não seria outro além de “mais uma cantorinha com guitarra e acompanhamento eletrônico de baixo orçamento emulando sons crus com letras de porralouquice anos 2000”. A verdade nem vai muito além disso, mas um detalhe interessante salvou a moça de uma cotação abaixo de 2,5 bananas: o medo de envelhecer, cuidadosamente colocado na capa com uma frase-título que vai justo na direção oposta: I Want To Grow Up. É mentira. Colleen quer continuar adolescente pelo maior tempo possível e não há nada errado em desejar tal façanha. Seu disco é um pequeno manual de como tentar. Vamos ver se ela consegue.

Colleen tem 30 anos, nasceu no aprazível estado americano do Massachussets, emigrando rapidamente para a ensolarada Oakland quando já estava mais, digamos, crescidinha. Lá chegando, ela começou a dar vazão a uma produção incessante de canções – mais letras, na verdade – que compunha. Com o auxílio de uma guitarra e uns blips e tóins eletrônicos, voltados para obter algum acompanhamento emulando baixo e bateria, ela começou a gravar e logo chegou a um EP, chamado 4 Loko 2 Laila, que causou furdunço e comoção na comunidade blogueira indie, descolete e antenada da região. Pouco depois, sob a forma de fita cassete, ela soltou Milo Go To Compton, fazendo menção a Milo Goes To College, álbum lançado pela banda Punk californiana Descendents no distante ano de 1982, uma referência para Colleen. Novamente o sucesso bateu à porta dela, disse “olá” e veio sob a forma de um contrato com a gravadora Hardly Art em 2010. Pouco depois, seu primeiro single, Green One foi lançado localmente arrombando a festa e estourando a boca do balão. Daí para o primeiro álbum, Sock It To Me foram menos de três anos, com intensas apresentações nos buracos e cafofos da região, sempre com a mesma formação: Colleen, sua guitarra e a drum machine de fundo de quintal.

I Want To Grow Up exigiu um pouco de polimento no som. Saem os efeitos sonoros intencionalmente datados e entram dois músicos: o produtor, guitarrista, baixista, tecladista Jake Orrall e o baterista Casey Weissbuch, ambos com a função de conferir certa profundidade sonora às canções de Colleen, sempre na onda de aliar doçura de grupos de garotas dos anos 1960 como Ronettes e Shirelles, passando pela raivinha das Runaways e adotando uma certa estética Punk solar e gaiata, inaugurada pelos Ramones. O resultado é bem interessante, ainda mais pela mencionada relutância da moça em envelhecer, expresso no feixe de 10 novas criações que dão forma ao álbum. A faixa título já mostra a falta de convicção em repetir a frase, mostrando-se totalmente confortável em seu mundo.

A melhor canção do álbum já vem logo em seguida, Wild One, sobre os enganos que o amor pode causar, tudo com uma melancolia em forma de algodão doce musical, meio praia, meio Sessão da Tarde, graças ao instrumental seco e sob controle, totalmente a serviço da melodia. Falando em programas televisivos do passado, TV é a próxima canção, entoando o mantra “TV is my friend, waits me everyday from the early age” acusando aquilo que já sabíamos, Colleen é uma criatura urbana, dessas criadas pela tal babá eletrônica, cheia de referência Pop boas e/ou más. Pay Attention seria uma canção de Blondie sem qualquer problema, enquanto Deeper Than Love mantém certa discrição envolta numa linha de baixo malandra e vocais que ora estão soterrados, ora estão duplicados. Things That Are Bad For Me surge em duas partes, bem diferentes, uma saltitante e doce, a outra mais lenta e pretendendo soar mais pesada.

Some People é fofa, Grind My Theeth é rapidinha e apunkalhada, enquanto Whatever I Want alia certo ar de tristeza em instrumental econômico de fim de tarde, finalizando um álbum simpático e sincero, mas que pode se tornar monótono após uma audição mais prolongada, fruto da insistência na tosquice instrumental, que pode funcionar aqui e ali, não chegando a entusiasmar. As letras e atitude da moça mereciam algo melhor mas, como dissemos, a verdade transparecida nas palavras nos pedem um voto de confiança.

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BOM PARA QUEM OUVE: Nobunny, Vivian Girls, Best Coast
ARTISTA: Colleen Green

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.