Resenhas

Father John Misty – I Love You, Honeybear

Joshua Tillman revela grande amadurecimento ao evidenciar suas melhores características

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Ano: 2015
Selo: Sub Pop
# Faixas: 11
Estilos: Indie Pop, Pop Folk, Indie Folk
Duração: 45'
Nota: 4.5

“I just love the kind of woman who can walk over a man” – Joshua Tillman é aquele cara que seus pais, professores e contos de fada sempre te falaram pra evitar, ao menos quando ele assume sua persona Father John Misty. Sacana, sedutor e cativante, o músico veio ainda mais exagerado em suas características em seu segundo trabalho sob este nome, I Love You, Honeybear.

Frases como a exemplificada acima saltam aos ouvidos mesmo se você não estiver prestando tanta atenção nas músicas, fruto de uma interpretação amadurecida em seus tão comentados shows, o que dá um teor “espetacular” a cada uma de suas músicas. Ele sabe te chamar a atenção, só que, além disso, ele parece saber o que você quer ouvir – o que gera uma postura de grande entrega do ouvinte mais sensível e um certo desconforto no mais desconfiado.

Se o disco anterior, Fear Fun, oscilava entre os altos e médios (sendo Hollywood Forever Cemetery Sings seu ápice absoluto), este aqui consegue manter-se em um nível semelhante e com uma grande coesão entre as músicas. Dá a impressão de que, se um dia lançarem uma coletânea com o melhor de sua carreira, não será difícil apontar quais são as deste trabalho. Suas faixas possuem uma característica narrativa, nostálgica e sempre com aquela aura fantasiosa de uma era longínqua do rádio e da indústria fonográfica. Perceba que, por vários aspectos, se trata de um álbum bastante hollywoodiano.

Em meio a isso, Tillman – ou melhor, John Misty – mostra-se a estrela certeira para ter todos os holofotes sobre si. Ele seria até intimidador se não seduzisse tão bem nossa confiança. Você se sente em casa ao ouvir composições como Strange Encounter e Nothing Good Ever Happens at Goddam Thirsty Crow, com melodias que você jura que já conhecia antes, e mesmo quando sua persona fica quase escrachada, como em Bored in the USA e The Ideal Husband, o ouvinte já está envolvido demais pra questionar aonde essas músicas estão o levando.

E o envolvimento é pleno na beleza de faixas como I Went to the Store One Day, Chateau Lobby 4 (In C for Two Virgins) e, principalmente, When You’re Smiling and Astride Me (uma verdadeira precisiodade que, se não marcar o ano nas listas em dezembro, tem grandes chances de entrar pra seleção pessoal de muitos para toda a vida), daí uma música em um clima feito por sintetizadores (True Affection) ser facilmente assimilada no meio de tudo isso.

E é aí que entra a maior sacanagem de todas, essa coisa “me faz chorar e é feito pra rir” que I Love You, Honeybear possui. Father John Misty faz o que quiser com o ouvinte e é aplaudido ao final. Tillman tanto sabe disso que parece ter feito um disco artesanalmente preparado para suas apresentações ao vivo. E é por isso que ele é um baita de um sacana – de um enorme bom gosto para timbres, ótima voz e quase genial nas composições, mas um sacana ainda assim.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.