A simpática banda de Portland, Oregon, já vai para o seu 14º ano de carreira. Ao longo deste tempo, foram oito álbuns de estúdio e um ao vivo, lançado naquela onda de fim de ciclo. Explico: The Decemberists nasceu como uma formação excêntrica e interessante, capaz de juntar Rock tradicional a pitadas generosas de música tradicional americana, meio Folk, meio clássica, meio aquelas marchas de bandas militares do século 18 a caminho das batalhas sanguinolentas do período. Apesar de parecer estranho, a mistura caiu nas graças do público ao longo dos anos 2000 e gerou uma onda de imitadores e “inspirados”, que seguiram na mesma vereda. Colin Meloy, líder do grupo, fã de Morrissey e dessas canções históricas, lidera The Decemberists desde o começo e segue na mesma direção proposta a partir do último trabalho de estúdio, The King Is Dead, de 2011 e do duplo ao vivo We All Raise Our Voices to the Air (Live Songs 04.11–08.11): levar a banda para uma trilha mais Pop e amigável, equilibrando esquisitices eventuais e enfatizando a sonoridade herdada de gente como R.E.M. circa 1991, no esquema Losing My Religion. Tem funcionado.
Este novo álbum pega o fio da meada justo a partir desta guinada estética nem tão grave, mas comprovadamente eficaz, responsável por tornar o trabalho anterior bem sucedido em termos de crítica e público. Podemos dizer que o processo está em andamento, dadas as surpresas que Meloy e sua turma reservaram ao longo destas 14 novas canções. Temos o Folk literário e bonito de The Singer Addresses His Audience, que cresce na base do refrão em canto e resposta. Make You Better é cristalina e Rock na medida certa, lembrando demais R.E.M., Lake Song vem conduzida por violões e vocais perfeitos de Meloy, com jeito de canção para se ouvir no meio de uma trilha pelas montanhas. Till The Water Is All Long Gone é soturna, escura e insinuante, The Wrong Year tem bateria noventista, guitarras suingadas e baixo muito bem executado, em constante crescendo.
Caroline Low (um aceno a Caroline No, da safra 1965 de The Beach Boys?) é outra criação que evoca a noite e seus mistérios, enquanto Better Not Wake The Baby revisita as canções de costumes coloniais das primeiras criações do grupo, com banjos, acordeão e levada marcial, passando logo para outro exemplo deste modo mais tradicional, com o ótimo título, que é Anti-Summersong, feita para ser cantada cruzando as pradarias rumo ao Oeste lá por 1862. Easy Come, Easy Go retoma a contemporaneidade com guitarras misteriosas, que evocam paisagens praianas e vespertinas, preparando o ouvinte para vocais, coros em meio à levada crocante que flana em Mistral e se transforma na sutil harmônica que pontua a numérica 12-17-12. A ironia final está na derradeira música do disco, The Begining Song.
Há, pelo menos, duas pequenas e maravilhosas gemas da perfeição Pop em What A Terrible World…. A primeira é Cavalry Captain, que, a despeito do título próximo dos temas históricos e tradicionais do início da carreira, tem um arranjo de metais que poderia lembrar alguma coisa feita no terreno sacrossanto da Soul Music do sul do país. Meloy canta o interessante verso “I am the cavalry captain, I am the remedy for your heart”, em meio a uma dinâmica de canção Pop oitentista, bonita e eficiente. Philomena é o outro acerto no alvo, com uma mistura que traz timbres de guitarras típicos de Byrds e outras bandas psicodélicas, corais sessentistas spectorianos, andamento com violinos, banjos e a deliciosa história de amor e admiração que vem contida na letra. Inevitável sorrir.
Este novíssimo disco credencia de vez The Decemberists para pleitear o posto de “banda grande” e partir para a dominação mundial. A divulgação inicial contempla excursão de três meses por Estados Unidos, Inglaterra e Europa, com datas já praticamente fechadas. Falta você conhecer e se apaixonar por este belo álbum.