Resenhas

Ghostface Killah – 36 Seasons

Repetição de formato de sua última obra não impede rapper de trazer bons momentos em ótimas batidas

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Ano: 2014
Selo: Tommy Boy Records
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop
Duração: 40:15
Nota: 3.0
Produção: The Revelations, Fizzy Womack, Abdul-Rahmaan, The 45 King

No ano passado, Ghostface Killah lançou um elogiado disco que contava a narrativa de uma persona que o rapper incorpora há muito tempo: Tony Starks. Em Twelve Reasons to Die, uma história de vingança foi contada junto a uma banda orquestradada pelo produtor Adrian Younge com todos os componentes para o sucesso: mudanças de enredo, vilões e um renascer junto aos mortos que deixaria qualquer fã religioso feliz. No entanto, 2014 reservou algumas coisas na vida de Dennis Cole – seu coletivo, Wu-Tang Clan, apresentou um disco fraco, seu primeiro em mais de sete anos, enquanto o mesmo se colocava em parceria para um lançamento em 2015 junto à ótima banda de jazz BADBADNOTGOOD.

Sentimos que o rapper está descolado de suas origens para assumir sim o seu novo caminho. Talvez seja por isso que 36 Seasons seja tão conservador, seguindo a mesma estrutura de sua obra do ano passado, alterando somente o seu produtor, The Revelations, e chamando alguns novos participantes, os ótimos Kool G Rap e AZ, parceiros da velha guarda de Ghostface. Se você se preocupa bastante com conteúdo por trás de letras, se sentirá incomodado com a proximidade temporal e de conteúdo entre as obras. No entanto, para um ouvinte brasileiro ou preocupado sobretudo com a mistura entre versos e batidas, o disco está entre os trabalhos mais interessantes do ano.

Não que ele seja musicalmente inédito ou inovador, mas 36 Seasons flui muito bem – seja pelo seu formato conectado entre si, seja pelas belíssimas participações especias ou pelo flow de rimas, que nos lembra uma mistura de Hip Hop dos anos 1990 e Soul dos anos 1970, deixando-o extremamente agradável de ouvir, principalmente por quem não está acostumado com estilo. Ghostface Killah é o protagonista, mas são poucos os momentos em que só o rapper está rimando, preferindo os featured artists ou mesmo deixar algumas faixas para seus personagens secundários, como na sexy e vintage It’s A Thin Line Between Love and Hate, cover do clásssico The Persuaders, executado agora por The Revelations, ou Loyalty com Kool G mostrando suas armas como vilão da história.

Algumas batidas são extremamente ricas como, as da excelente Here I Go Again, balada perfeita no começo do disco, e as de Double Cross e The Dogs of War, ambas como ótimas músicas de perseguição para o filme imaginário criado por Killah. Se essa é sua zona de conforto, podemos dizer estamos bastante satisfeitos com a sua preocupação com produção, batidas e levada. Isso nos mostra que tal região é muito mais agradável e inteligente que os rumos que Wu-Tang Clan tomou neste ano, mas que também não deve ter continuidade, pelo bem do rapper, em um futuro trabalho.

Se ao menos Twelves Reasons to Die fosse a primeira parte de uma história que continua em 36 Seasons, Dennis teria acertado em cheio. No entanto, ele preferiu fazer um novo filme com o mesmo enredo, sem trocar o protagonista, e isso é o maior problema aqui. Se a semelhança não fosse tão notável, a obra estaria entre os melhores momentos de um ano diferente para o Hip Hop. Podemos, ao mesmo tempo, ficar tranquilos que, se o lirismo está repetitivo, Ghostface Killah está em uma bela retomada de sua carreira solo e o seu futuro disco com BBNG nos faz salivar de ansiedade, pois o nível de instrumentação ao vivo será ainda mais elevado e, consequentemente, suas batidas também. Só não nos venha contar a mesma história três vezes.

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BOM PARA QUEM OUVE: Racionais MCs, Joey Bada$$, Wu-Tang Clan
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.