Resenhas

Clark – Clark

Produtor inglês lança seu oitavo disco em quase uma década e meia de carreira

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Ano: 2014
Selo: Warp Records
# Faixas: 13
Estilos: Techno, Industrial, Experimental, Eletrônica, IDM
Duração: 47:10
Nota: 3.5
Produção: Chris Clark

“Música é como uma escultura. É como tentar capturar um momento de impulso e destilá-lo para sempre”. Essa frase foi dita por Clark, produtor inglês que lança em 2014 seu oitavo disco em quase uma década e meia de carreira. Creio que definir seu estilo dentro da cena Eletrônica é algo que não pode ser ser feito sem certa verborragia estilística ou sem que haja grande ambiguidade em tentar encarcerar em estilos um músico de espirito tão livre e com fortes tendências ao experimentalismo como é Chris Clark.

Em treze intensas faixas, que juntas somam 47 minutos e formam seu álbum homônimo, o produtor mostra uma bela e ambiciosa amálgama sonora, uma mistura intrincada, que consegue fundir diversos subgêneros da Música Eletrônica sem nunca perder a coesão. Essas associações experimentais poderiam de ser tornar extremamente difíceis ao ouvinte, mas, ao contrário disso, elas se revelam donas uma audição fascinante, principalmente ao se observar como o músico lida com tantas ideias ao mesmo tempo sem que haja nenhum ruído entre elas ou que elas se tornem de alguma maneira conflitante.

O mais importante é que o ouvinte não fica desorientado em nenhum momento durante a audição. Mesmo com tanto acontecendo ao mesmo tempo, cada música se mostra hermética em seu próprio universo, propiciando ao ouvinte uma viagem diferente a cada nova faixa. As habilidades de Chris nos quesitos técnicos e de composição suavizam muitas das peculiaridade do álbum, como, por exemplo, na dobradinha introdutória. Iniciando com sintetizadores esparsos, porém maciços, Ship Is Flooding mostra também seu lado onírico, ao criar uma segunda camada dos instrumentos guiando uma melodia doce e viajante. Winter Linn, por sua vez, mostra algo mais dançante, que se constrói a partir de synths austeros e texturas ruidosas, mas também de camadas menos ásperas e de uma aura progressiva, conduzida principalmente por suas batidas propulsoras.

Grande parte das faixas são elaboradas a partir dessa dualidade intrínseca à obra de Clark, algo propícia essa amálgama criado pelo produtor e que resulta nesse misto ambicioso de tendências e sonoridades, a primeira vista, dispares. Essa liberdade permite que músicas como Banjo (que poderia ter saído de um disco de Aphex Twin) coexistam com outras como The Grit in the Pearl (como se Underworld resolvesse colocar mais groove em sua obra) dentro de um mesmo álbum. A inebriante Strength Through Fragility também pode entrar para este grupo de extremos do álbum ao apresentar uma combinação entre as frágeis notas do piano e ambiência criada pelas texturas eletrônicas crescentes que aparece quase ao fim da música.

Luz e escuridão, paz e violência, silêncio e barulho. É a partir dessas dualidades que Chris Clark cria e partir delas que encanta o ouvinte ao transcender o efeito binário desses polos conflitantes. No final das contas, é o fator humano que mais importa em Clark, um ótimo exemplar da Música Eletrônica.

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BOM PARA QUEM OUVE: Arca, Underworld, Aphex Twin
ARTISTA: Clark

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts