Falar da última obra de um artista é sempre um assunto delicado. Sempre que escutamos as faixas de um registro e sabemos que são os últimos suspiros criativos daquele(a) compositor(a), nos deparamos com sensações e um imaginário final. O último cenário antes do derradeiro fim de um nome. Ainda mais quando este artista circunda o Experimental, no qual não há limites para transpor seu pensamento em música. É assim que nos encontramos e nos sentimos ao ouvir o último registro de Alex Zhang Hungtai, mais conhecido pela alcunha de Dirty Beaches.
Stateless marca o fim de quase uma década de experimentalismos e criação de mundos lisérgicos e lúdicos, com momentos inesquecíveis como Drifters/Love Is The Devil (2013) e Badlands (2011). Seguindo o mesmo padrão do que seus outros discos, Alex Zhang continua a nos surpreender, fazendo um disco que teria tudo para ser extremamente monótono mas, mesmo assim, se revela uma experiência fantástica e que serve como um ótimo exemplo de “como fazer música experimental”. O divertido de escutar um disco de Dirty Beaches é que você nunca sabe aonde vai parar.
O disco funciona como um vortex, no qual uma série de pads e detalhes de sintetizadores são tocados baseados em uma nota, quase como um mantra moderno. Como sempre, Alex vai colocando detalhes minúsculos que impedem o ouvinte de se entediar, criando assim uma viagem interessante do começo ao fim (uma proeza de se realizar, afinal estamos lidando com músicas de até 14 minutos). É uma arte muito sutil, mas Dirty Beaches nunca foi um projeto feito para ter uma aura rockstar e sim, mais introspectiva.
Neste sentido, vemos que Stateless é um “último disco” que funciona mais como uma homenagem do que um epitáfio, ou seja, Alex Zhang pega as melhores partes de seu projeto e os reafirma neste curto registro, quando analisadas a quantidade de faixas. Não poderia haver melhor forma de Dirty Beaches encerrar suas atividades do que mostrando toda a sua potência em um registro que não apaga a importância dos grandes discos do passado, mas também não fica ocluso entre tantos sucessos.
Um ponto final bem dado em uma trajetória em que o tempo nunca foi sentido.
Dirty Beaches – Stateless from Alex Zhang Hungtai on Vimeo.