Resenhas

Foo Fighters – Sonic Highways

Novo álbum da banda americana ousa no conceito, mas repete sonoridade

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Ano: 2014
Selo: Sony
# Faixas: 8
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Pop Rock
Duração: 42:08
Nota: 3.0
Produção: Butch Vig

Não parece, mas este já é o oitavo álbum em 20 anos de carreira de Foo Fighters. O tempo, este conceito relativo e aerodinâmico, passa voando mesmo. Dave Grohl, líder da banda, homem de negócios dos mais argutos, boa praça do senso comum e inteligente fã de Rock, resolveu diversificar o leque de ofertas do grupo, talvez pela data comemorativa, talvez por achar interessante inserir o próprio nome num grupo seleto de arquitetos da história do Rock americano. E o que ele faz? Pensa numa série de documentários televisivos (exibidos pelo canal HBO nos Estados Unidos e no Bis/Net por aqui, a partir de 30 de novembro) celebrando a relação entre artistas e cidades da América, procurando traçar um mapa de lugares e atores de um evento que se dá há mais de 50 anos, o próprio Rock dos Estados Unidos. E batiza a coisa toda de Sonic Highways.

O conceito é mais amplo. Além de visitar as cidades escolhidas (Chicago, Washington, Nashville, Austin, Los Angeles, New Orleans, Seattle e Nova York), esmiuçando as cenas locais, entrevistando velhos ícones e adentrando estúdios emblemáticos, Grohl leva sua banda e o produtor Butch Vig para, num movimento supostamente natural e espontâneo, dadas as condições de camaradagem que sua figura suscita, gravar nessas cidades, nestes estúdios, num mecanismo de auto-inclusão na história. Tudo bem, ninguém vai dar muita importância para esse detalhe ao ouvir as oito canções de Sonic Highways, cada uma gravada numa cidade visitada ao longo da série de documentários. A banda se adiantou em dizer que o álbum não é uma trilha sonora, mas traz canções que foram compostas e pensadas enquanto seus integrantes estavam na estrada, num processo que desencadeia certa confusão, fazendo do disco um misto de álbum ao vivo, conceitual, trilha sonora, tudo ao mesmo tempo.

Há um leque amplo de músicos convidados. Rami Jaffee (tecladista de The Wallflowers), Rick Nielsen (guitarrista de Cheap Tricks), Gary Clark Jr, Joe Walsh (guitarrista de The Eagles), Preservation Hall Jazz Band, Joan Jett e o vocalista e guitarrista de Death Cab For Cutie, Ben Gibbard. Toda essa galera confere um clima de camaradagem semelhante ao projeto anterior de Grohl, Sound City e afirma a figura de Dave como uma espécie de defensor de certa tradição social e cultural do Rock, algo que deve ser conhecido, lembrado e preservado.

Pois bem, após destrincharmos superficialmente o movimento por trás da série e do álbum, vamos às oito canções de Sonic Highways, todas guardando a identidade carimbada de Foo Fighters: um Rock feito para estádios, com ascendência Punk e traços de Pop enguitarrado dos anos 1970, devidamente processados e empacotados para a diversão de um espectro amplo de ouvintes. O DNA é tão bem pensado que torna-se quase impossível alguém cravar que essa ou aquela canção é ruim. Todas têm refrão assoviável e alguma sacada na produção de Vig, que continua um dos melhores tradutores desse amálgama sonoro. A abertura dedilhada da primeira canção, Something From Nothing apresenta versos iniciais que tem ressonância setentista inegável, conduzindo a canção para algo um pouco mais pesado, mas incapaz de ferir susceptibilidades.

A melhor canção já vem logo em seguida, The Feast And The Famine, com aquele modelo gritado/pulado que Grohl executa com habilidade, herdado de gente legal como Bob Mould. Congregation segue pelo mesmo caminho de Pop/Rock de guitarras, com refrão bem urdido e aerodinâmico. What Did I Do/God As My Witness abusa dos falsos inícios e falsos finais, mas tem um andamento Blues baixos teores que se destaca. Outside começa climática mas envereda por uma levada tipicamente anos 1990, com uma bela dinâmica entre a cozinha de Nate Mandel e Taylor Hawkins. In The Clear vai pelo mesmo caminho, mas quase não dá pra ouvir qualquer vestígio da participação da Preservation Hall Jazz Band na faixa. Subterranean, com vocais e guitarra de Ben Gibbard, tem interessante arranjo de cordas, certa suavidade e uma alternância acústico/elétrico simpática. O encerramento com I Am A River vem contemplativo e épico em pouco mais de sete minutos de duração.

Sonic Highways, o álbum, é tipicamente Foo Fighters. Tem melodia, certo peso, produção esperta, um conceito, músicos competentes e convidados bem legais. Traduz em música uma ideia com mais prós que contras, mantém a forma e o estofo das canções da banda mas não tem elementos para converter novos admiradores, tampouco fazer os detratores da banda mudarem de ideia – ou aqueles que pensam que o melhor da obra de Grohl e cia. está nos dois primeiros álbuns.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.