Resenhas

Weezer – Everything Will Be Alright In The End

Nono álbum do Weezer é para velhos e novíssimos fãs

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Ano: 2014
Selo: Universal
# Faixas: 13
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Pop Rock
Duração: 42:15min
Nota: 4.0
Produção: Ric Ocasek
SoundCloud: http://www.rdio.com/artist/Weezer/album/Everything_Will_Be_Alright_In_The_End/

Senhoras e senhores, moças e rapazes, Weezer conseguiu novamente. Gravou mais um disco adorável, totalmente inserido na lógica de que todo lançamento da banda de Rivers Cuomo e seus capangas guarda, ao menos, duas ou três canções irretocáveis. Como bônus, temos a volta de Ric Ocasek (The Cars) na produção e todo aquele aroma de espírito nerd adolescente no ar. Vejam bem, adolescentes de zero a cem anos, ou seja, todos aqueles seres que já se sentiram desprezados pela menina mais bonita, sacaneados pelos caras mais metidos, defenestrados por alguma lógica dominante de caráter estético ou de qualquer outro parâmetro. Weezer é composto por gente que não é – e desistiu de ser – popular há muito tempo. E toca para iguais.

Confesso que este nono álbum da banda não me pegou imediatamente. Cheguei até a achar que a verve autoirônica de Rivers tinha se esvaziado e ele havia se transformado num nerd fisiológico, mas que nada. Talvez fosse algum pé atrás por conta dos resultados aquém do esperado nos três últimos discos, Red Album(2008), Raditude (2009) e Hurley (2010) que, mesmo dentro da lógica das duas ou três canções geniais por álbum, padeciam de algum gosto estranho, algum sentimento de estranheza.

Algumas audições mais tarde, já estava completamente fisgado por aquele sentimento de verão que surge em canções que mais parecem bolotas coloridas saltitantes, como é o caso de Go Away, um adorável dueto com Bethany Cosentino, do duo Best Coast. Durante pouco mais de três minutos, a música te leva e traz para a melhor época da sua vida, com direito a um caminho audiovisual com filmes da Sessão da Tarde, desenhos animados dos anos 1970, Ferris Bueller sacudindo Chicago na cena da parada, Mestre Yoda ensinando Luke Skywalker a ser um Mestre Jedi, ou qualquer referência Pop que você tenha, de acordo com seu tempo no planeta. É uma conexão imediata, baseada na ancestral parábola de “menino bom sofrendo por menina má”. Coisa séria e antropológica.

Há outros momentos iluminados. A progressão de acordes em Da Vinci remete a séries televisivas antigas, enquanto a canção tem uma simpática parede de guitarras no refrão, como é de bom tom em termos de Weezer. Back In The Shack é a versão 2014 de In The Garage, canção-inventário da banda, do primeiro álbum, glorificando suas referências e tempo de reclusão nos porões e garagens do início da década de 1990. É Cuomo cultivando seu adolescente interno com carinho. O mesmo sentimento permeia Eulogy For A Rock Band, com vocais sujinhos, baixo estalando e refrão melódico. I’ve Had It Up Here tem algum groove que joga a favor da tradição guitarreira e traz falsete se misturando com andamento clássico. Foolish Father também é outra beleza, com guitarras psicodélicas no início e andamento weezeriano típico e final apoteótico com o verso everything will be alright in the end repetido por um coral infantil. Ainda entre as canções irretocáveis estão, The British Are Coming, Cleopatra e a adorável Lonely Girl, que parece gravada por alguma banda dos anos 1960 e rearranjada para a contemporaneidade.

Este novo álbum do Weezer tem todos os elementos necessários para agradar aos fãs mais exigentes, que esperam um trabalho semelhante ao segundo álbum da banda, Pinkerton (1996), além de cultivar novos e novíssimos admiradores. É Rock honesto, emocional, tragicômico, cheio de autoironia, bem tocado, bem produzido e transbordando de personalidade. Não tem erro.

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BOM PARA QUEM OUVE: Nada Surf, Teenage Fanclub, Best Coast
ARTISTA: Weezer
MARCADORES: Ouça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.