Resenhas

milo – a toothpaste suburb

Primeiro disco do rapper norte-americano deve agradar quem não está acostumado ao Hip Hop

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Ano: 2014
Selo: Hellfyre Club
# Faixas: 16
Estilos: Hip Hop, Experimental, Rap
Duração: 47:00
Nota: 3.5
Produção: glooghost, Riley Lake, greyhat, Tastenothing

No meio do caminho entre o Rap e a poesia lírica, milo surgiu há dois anos entre mixtapes e EPs, como Things That Happen At Day/Night e Cavalcade. Seu estilo bastante particular o coloca dentro do Hip Hop, mas sem soar como estamos acostumados, parecendo na verdade monólogos interessantíssimos, todos conduzidos por batidas que se não chamam tanto a atenção, não comprometem. Seu primeiro disco, a toothpaste suburb, é uma crônica de seu cotidiano e vida de músico, tudo visto sob uma ótica bastante crítica, lírica, irônica e que logo se transforma em histórias tangíveis com o auxílio da música como forma de expressão.

Cada faixa tem um trecho interessante que fica na cabeça, como se frases de efeitos fossem colocadas propositalmente para que seus contos ganhassem mais impacto e respeito. Como Objectifying Rabbits com a ótima participação de Open Mike Eagle, um dos grandes nomes do gênero em 2014, na qual milo diz que escreveu coisas bonitas em uma noite insone, mas logo depois afirma: “Read Plato’s Republic and promptly forget the whole thing”, expressando a realidade que vivemos na Internet – olhamos pra todos os lados sem absorver nada direito. Talvez este olhar mais atento à sua juventude e ao mundo contemporâneo faça suas poesias ainda mais interessantes. Não vemos em nenhum momento rapper tentando se gabar de uma vida cheia de glamour e mulheres, sendo na maioria das vezes um grande “intelectual” com referências que partem do Hip Hop ao Cinema, da Literatura à Culinária.

Ele, no entanto, parece muito mundano. Como em Argyle Sox, em que começa dizendo:’Boredom is represented by the Sunday /One day I will redecorate my living space with Feng Shui” – existe claramente uma aproximação divertida entre artista e ouvinte nestes momentos. Excertos como Buck 65’s Knee são pura poesia – nus de qualquer instrumental e sendo conduzido basicamente na voz, às vezes carecendo de uma maior aproximação musical. Seu melhor momento, Just Us (a reprise for Robert Who Will Never Be Forgotten) parece ser um destes instantes em que somos desprovidos de qualquer auxílio instrumental, mas tampouco somos jogados a um baixo sintetizado grave e uma batida leve que faz sentido no meio de toda a prosa poética que milo vai jogando, sempre cabisbaixo e melancólico, aos nossos ouvidos.

Talvez este seja um pequeno problema de um disco com 16 faixas – a semelhança entre timbres de voz e formas de se contar histórias acabam levando o ouvinte a uma certa sonolência lá para a sua metade, principalmente para quem já ouve Hip Hop há um tempo. No entanto, para quem desconhece o estilo, suas batidas mais eletrônicas e simples, mas eficazes, acabam aproximando os marujos de primeira viagem. Seu jeito leve e sincero de expor seu cotidiano, mesmo com uma certa repetição ao longo de seus 47 minutos, não deixa na mão os forasteiros e é a perfeita entrada para os preconceituosos também. Se este não for o seu caso, preste atenção nas letras, elas com certeza te farão dar a atenção devida ao álbum, que parece uma timeline de Facebook – um pouco de tudo, sem nunca chegarmos ao conteúdo além de sua superfície.

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ARTISTA: Milo
MARCADORES: Experimental, Hip Hop, Rap

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.