Após uma pausa em seu papel de cantor-compositor à frente de Wilco, Jeff Tweedy dedicou-se à produção de alguns outros trabalhos (White Denim, Low e Real Estate, entre eles) em seu estúdio The Loft, em Chicago. Mas não pense que este intervalo serviu como interrupção do que o músico sabe fazer de melhor (sabemos que ele não é muito de descansar, né?): foram cerca de 90 canções compostas neste ínterim, que agora, selecionadas, tomam forma com o álbum duplo de seu novo projeto TWEEDY.
TWEEDY seria Wilco se não fosse por um fator primordial: Sukierae é muito além da materialização de um projeto solo. Ele é um projeto de família. Digo isto não só porque é seu filho Spencer que se encontra na bateria, mas porque a grande inspiração e dedicação deste álbum é a batalha de sua mulher Sue (mãe de Spencer) contra um linfoma. Daí a contundência do sobrenome que dá o título ao grupo.
Sonoramente, TWEEDY é de fato um projeto de Jeff e Spencer, com algumas “participações especiais”. O violão rústico e a bateria soam como protagonistas lado a lado, quase que a totalidade da duração de Sukierae, acompanhados dos vocais de Jess Wolfe e Holly Laessig e dos teclados de Scott McCaughey, sempre muito sensíveis e exalando um enorme bom gosto estético.
Outra coisa chama atenção em Sukierae: ele é um álbum duplo de 20 faixas (sim, 20). O que parece ser uma estratégia contra-intuitiva na era do déficit de atenção em que vivemos, na verdade aparece como um desejo legítimo de se ater à experiencia de apreciação de uma jornada musical. Por mais que seja longo, e venha em vinil, o álbum não soa como uma revolta ressentida anti-mercado, e sim como uma fidelidade à uma expectativa íntegra: compor um trabalho sincero, delicado e preenchido de qualidade, sem ter que se ater às expectativas, à própria fama e ao cacife do sobrenome. Conseguiram.