Resenhas

Allah-Las – Worship the Sun

Ensolarado segundo disco do quarteto flerta com estética sessentista e deve agradar fãs de Surf Music

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Ano: 2014
Selo: Innovative Leisure
# Faixas: 14
Estilos: Rock Psicodélico, Surf Music
Duração: 40:00
Nota: 3.0
Produção: Allah-Las

Allah-Las pode ser considerada daquelas banda que fazem o Sol aparecer mesmo em um dia nublado. Seu segundo disco, com o sugestivo título Worship The Sun, não mente quando o assunto é esquentar os corações de seus ouvintes e passa a sensação de um retorno à década de 1960, quando o Rock Psicodélico se uniu a Surf Music sob a deliciosa embalagem de The Beach Boys. Não é à toa que o lançamento deste novo trabalho coincide com o início do outono no hemisfério norte, logo, um período em que o frio começa a se tornar cada vez mais presente. Ele tenta e consegue transformar todo dia em verão sem se preocupar com o amanhã.

Se as raizes de seu trabalho estão atentas ao passado, uma visão mais ampla e atual nos coloca nas inevitáveis comparações com Unknown Mortal Orchestra da Nova Zelândia, devido à levada calma, bastante radiofônica de suas melodias, mas também a Real Estate, banda de New Jersey (EUA). que conseguiu aquecer um estado não conhecido pelas suas temperaturas agradáveis. Vale ressaltar que Allah-Las é da Califórnia, o “Estado Ensolarado”, e os dois grupos norte-americanos seguem uma mesma atmosfera de boas vibrações sonoras e interessantes duelos de guitarras, criando levadas com a emulação do calor em mente. No entanto, as comparações acabam por aí o som da costa oeste é muito mais psicodélico e alegre, sai do mormaço para torrar no sol a pino desértico da região.

Oscilando entre faixas instrumentais e cantadas, o quarteto brilha quando as suas guitarras se entendem perfeitamente, como em Recurring e Ferus Gallery, combinações harmônicas interessantes entre base e solo, sempre nos levando ao imaginário das praias de sua região, do surfe e da vontade constante de vivermos um verão infinito. E essa é a grande diferença entre os californianos e outros grupos que transpiram a influência da Surf Music, enquanto a letargia parece ser uma opção para a proposta sonora de grupos como DIIV ou White Fence. Aqui é adereço para a Psicodelia, é o complemento às gostosas e descompromissadas faixas Follow You Down e Artifact, por exemplo, ecos muito bem-vindos do passado.

Talvez a semelhança com grupos antigos, como The Byrds e o próprio Beach Boys, diminua um pouco o impacto ao se ouvir pela primeira vez Worship the Sun, álbum que ainda reproduz muito da vibe Pop sentida em seu autointitulado disco de 2012. No entanto, este reconhecimento instantâneo favorece o sorriso no rosto do ouvinte e a alegria de ser transportado para outro lugar que acaba nos fazendo esquecer um pouco a falta de ineditismo da obra. Quando nos envolvemos ao longo de catorze faixas, tal constatação pode ser um pouco mais evidente, mas os momentos derradeiros, como o delicioso Rock sulista de Better Than Mine ou a “rollingstoniana” Every Girl, surgem para criar outros espectros de cor e luz ao ensolarado som dos californianos, deixando-o, acima de tudo, muito divertido e gostoso de ouvir neste infinito verão brasileiro de 2014.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.