Resenhas

Interpol – El Pintor

Retorno triunfal da banda é seu melhor registro desde sua estreia

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Ano: 2014
Selo: Matador, Soft Limit
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Post Punk Revival
Duração: 39:50
Nota: 4.0
Produção: Interpol

Se existe um estigma em relação às bandas do começo do século que surgiram/ganharam destaque na gênese do Indie Rock como o conhecemos atualmente – The Strokes, The White Stripes, The Vines, The Killers e Interpol, entre outras – é a velha frase “mas eles nunca foram tão bons quanto no primeiro disco”. Curiosamente, esta “penitência” não chega perto de grupos que apareceram posteriormente; Arctic Monkeys e The Black Keys, por exemplo, evoluiram para outras sonoridades que, mesmo escapistas em relação às suas origens, ainda conseguem capturar novos fãs agradando quem os acompanhou desde o início – nem sempre todos, é claro.

No caso do grupo nova iorquino, a cobrança e muitas vezes o descarte pela crítica vem pelo fato de que Paul Banks e companhia terem feito uma obra icônica em 2002, Turn On The Bright Lights, criado uma cena ao seu redor – o chamado Post Punk Revival – e trazido principalmente aos jovens na casa dos 20 poucos anos um espírito escuro e oitentista bastante assimilável. Ninguém estava surgindo com um som naquele formato e garanto que grande parte dos nossos leitores que agora se encontram nessa faixa etária cresceram ouvindo alguns de seus discos, mas sempre com a estreia na cabeça, o ícone a ser ao menos alcançado. El Pintor, anagrama com o nome da banda, é o seu primeiro disco em quatro anos – o último, Interpol, a trouxe inclusive para shows em nossas terras. Neste período, o seu vocalista lançou um projeto solo interessante, Banks, o baixista Carlos Denger sairia do grupo após as gravações do quarto álbum e muito tempo se passaria. A volta de The Strokes aconteceu nesse período e não foi muito bem sucedida, um chamariz de que o retiro e a saída de cena pudessem ser as soluções para que seu melhor trabalho, desde seu começo, pudesse surgir.

Não precisamos de muitos acordes na abertura de All The Rage Back Home para viajar um pouco e nos vermos confusos com a faixa que reproduz Turn On The Bright Lights em poucos quatro minutos. Temos Banks incisivo, as guitarras mais angulares do que nunca – de um lado a outro, elas são ouvidas com aberturas e intesidades distinitas – o baixo tem o mesmo groove Punk do começo de sua carreira e Sam na bateria tenta colar todos os elementos de forma coerente. Quando a primeira faixa é excelente, temos dois caminhos a se seguir, ou da manutenção das expectativas ou rumo à ladeira abaixo. Felizmente, estamos na primeira direção, My Desire é sensual e expansiva, nos fazendo lembrar porque a banda sempre esteve em nossas playlists. A música é, na verdade, a resposta do vocalista às críticas e a busca de sua obra de redenção que superasse o nicho de fãs que ainda gostam de todos os seus discos apesar de tudo – como este que voz escreve. Nas letras, ele diz: “In my desire, I’m a frustrated man, Some of us ask for peace, do what we can”, para depois completar no refrão “Play me out, play me out/Look like your chance has come”; logo, percebemos que frustração e provocações são as suas forças matrizes.

Anywhere fecha a trinca de pancadas – uma abertura perfeita para um concerto, daquelas que mantém todos empolgados do começo ao fim da sessão. Dos momentos de calma, surgem as lindas baladas Same Town, New Story; símbolo da reconstrução de sua banda; e My Blue Supreme, sexy e perfeita para a metade do disco: transpira, mas faz te faz respirar um pouco depois do êxtase. Everything is Wrong é Post-Punk, mas com timbres de guitarra estridentes, sem padrão e angulares no sentido do Math Rock; bem construídos e se propondo ao deleite do ouvinte. Breaker 1 é a releitura moderna a um do seus maiores clássicos, NYC – calma e se propondo a crescer até uma explosão típica da banda, mas que está em sua melhor forma aqui, extremamente melancólica e melódica. Se Tidal Wave e Twice As Hard não nos guardam fortes emoções apesar de não comprometerem, é Ancient Ways que realça El Pintor como o grande retorno da banda.

Banks abre dizendo: “Oh Fuck the ancient ways”. O que isso significa como síntese do disco? As formas antigas de composição não parecem ser as mais eficientes, novos métodos são mais interessantes e o vocalista está cansado dos paradigmas que o perseguem, ele quer quebrá-los. A marcante faixa consolida o disco como o seu grande trabalho desde sua estreia no sentido de ser maior e mais consistente logo no primeiro contato – não precisamos analisá-lo profundamente para entender o seu verdadeiro valor, pois ele surge naturalmente. Ultrapassa o limite de seus fãs para mostrar a sua relevância novamente e faz o que a maioria dos grupos que surgiram ao mesmo tempo não fez – equiparar um clássico. Toda a experimentação anterior – um direito do trabalhador músico porque fazer sempre a mesma coisa cansa – eclodem em El Pintor em uma retomada às origens de forma contemporânea, consistente e excelente.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.