O prolífico músico paulista Phillip Long nos entrega seu terceiro disco em menos de um ano – a inquietude do artista acaba por gerar, até agora, seu projeto mais ambicioso. Dancing With Fire é uma ópera Folk guiada por uma instrumentação calma e harmoniosa que nos conduz em um enredo sobre Phillip, sobre mim, sobre você, sobre qualquer um. Num tom melancólico, ele nos fala sobre paixão, lágrimas, desespero, insegurança, redenção e uma gama de sentimentos humanos que acompanha a cada um de nós.
O prólogo Dancing With Fire nos faz um convite que, se aceito, nos conduzirá por mais treze faixas guiadas por belas melodias e letras, que carregam em si uma grande carga de sensibilidade e honestidade. O disco começa onde Caiçara termina: o monólogo de E nunca foi nosso é substituído pelas novas letras e segue um formato semi-acústico no qual o violão constrói toda sua sonoridade intimista.
Passando a introdução, We Were Giants começa a obra mostrando o protagonista em uma situação difícil em que tem que encarar o possível fim de um relacionamento. A dificuldade em aceitar os fatos e suportar tal fim continua em Woman Of Venus, na qual o fim é declarado. A negação vem acompanhada por uma instrumentação carregada que se ajusta perfeitamente à narrativa.
A repetição dos versos em In God’s Name mostra o desespero que toma conta do personagem e a confusão dentro de sua cabeça. Essa é uma das poucas músicas em que o baixo ajuda a construir a sonoridade e a primeira em que Maria Eliza faz um dueto com Long, como se fosse uma doce voz dentro de sua cabeça que professa palavras raivosas e confusas.
Os belos interlúdios compostos por Eduardo Kusdra dão o clima perfeito para o disco prosseguir, como se fossem pausas para podermos parar e repensar nossos caminhos. Esse é o papel de A Prelude For My Disgrace, que marca a caminhada rumo à desgraça do personagem que ainda passará pelos mais sombrios momentos.
A idealização de perfeição vem acompanhada dos fantasmas do passado em Damn She’s Got My Mind, juntamente com a depressão e auto-piedade de So Old To Fall In Love. Mais uma vez, aquela vozinha aparece em I Can’t Wait Until Tomorrow,mas agora em tom melancólico e desesperançoso. As variações no andamento das músicas acompanham as mudanças de humor nas diversas fases em que o personagem se encontra.
Com o desabafo de It’s Hard When It Aches, vem uma sensação de aceitação dolorida, acompanhada por um belo dueto com M. Eliza e uma instrumentação chorosa dos slides. Em outro momento de pausa e reflexão, o interlúdio A Requiem For My Joy ajuda a criar o clima de Forsaken By Love, na qual acontece o último suspiro melancólico antes da aceitação final.
Sometimes inaugura uma nova fase da narrativa e representa a redenção, o esquecimento e a superação como se fosse um resgate de si mesmo. O alegre desdenhar de Except My Love representa o desprendimento final, o fim da jornada, a superação da perda. A longa jornada se concretiza na última Dancing With Fire apresentando a mesma melodia em que o disco se inicia, como se ela fizesse parte de uma espécie de ciclo da obra. Parafraseando Phillip, “O caminho para a redenção passa diretamente pelo fogo, é uma longa e difícil estrada e você pode se cansar”, mas esta é uma estrada pela qual todos nós já passamos ou vamos passar algum dia.
A emoção transbordante de Dancing With Fire traz em suas canções raiva, depressão, amor, felicidade, sonho e esperança, em letras ambiciosas que conseguem construir tudo isso de uma forma singela. A instrumentação simples ajuda a criar esse clima intimista e honesto que nos dá a impressão de que o próprio Long está nos narrando essa história, ou que estamos contando para nós mesmos, revistando nossos próprios passados.