Resenhas

Blu – Good to Be Home

Álbum pega o que de melhor está acontecendo no Gangsta Rap e proporciona uma bela experiência

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Ano: 2014
Selo: New World Color, Nature Sounds
# Faixas: 20
Estilos: Hip Hop
Duração: 76:00
Nota: 3.5
Produção: Bombay

Podemos dizer que Blu é um dos rappers mais trabalhadores da atualidade, lançando diversos discos e EPs desde 2007, quando sua elogiadíssima estreia, Bellow the Heavens, o colocou entre os nomes mais quentes do circuito. A partir de seu imediato sucesso, no entanto, nenhum de seus trabalhos conseguiu chegar aos pés de seu debut, algo que o persegue constantemente. Podemos dizer que Good to Be Home seja sua obra mais consistente em muito tempo e está a par dos melhores álbuns do gênero em 2014.

Seu sétimo disco se diferencia bastante de York, misterioso trabalho que oscilou entre lançamentos de 2011 até 2013, mas que é considerado sua última obra. Nela, faixas que passavam pelo Hip Hop moderno que tange a música Eletrônica, uma atmosfera quase 8 bits e gamística com seus timbres, que poderiam muito bem estar em alguma trilha-sonora de algum jogo da década de 1980, e uma produção assinada por ninguém menos que Flying Lotus davam um ar vanguardista ao rapper. No entanto, o duplo álbum Good to Be Home foge totalmente do clima anterior, sendo oldschool do começo ao fim.

Se você por acaso gostou de Piñata, excelente trabalho de Gangsta Rap de Freddie Gibs & Madlib, saiba que Blu segue o mesmo esquema de uma produção carregada de samples de Soul e R&B, todos de baixa qualidade, como se saíssem de sua vitrola, e um clima hostil que poderia estar em qualquer filme sobre as periferias norte-americanas na década de 1990. Produzido por Bombay e com participações especiais de nomes como Casey Veggies, Imani do clássico grupo Pharcyde, Oh No e The Alchemist, entre outros, podemos considerar a obra uma verdadeira ode ao passado, um tempo em que as composições eram basicamente feitas a partir de discos empoeirados de música negra que serviam de base para baterias simples: seu verdadeiro poder vinha das linhas agressivas de seus frontmans.

São pequenos trechos que, reproduzidos em loop, dão a fluidez necessária para duelos de rimas que se encontram em cada faixa do álbum, como Well Fare com Thurz e Casey Viggies que tem uma voz reproduzida em algumas onomatopeías, um timbre agudo de Soul perdido no século passado. O mesmo é escondido e cortado para só aparecer em totalidade no refrão. Enquanto o Gangsta rola solto, algumas faixas instrumentais, como Back Home Again, surgem para aliviar a tensão, algo que parece percorrer toda a obra, nada mais verossímil com o que Blu quer trazer: seu amor pelo Hip Hop Underground e sua cidade, Los Angeles. Em suas vinte faixas – o disco é duplo – temos excelentes músicas como The Return, a pura Cypress Hill, The West, a deliciosa e sensual Boys N The Hood e balada He Man. Todas lembram muito a direção de produção de Madlib, citada anteriormente, demonstrando que um jeito “analógico” e menos produzido, vibrante pela sua vibe antiga, está em pauta, algo criado no tempo aúreo do Hip Hop, os anos 1990.

Chega a ser até romântico ouvir um disco como Good to Be Home, uma obra que não traz nada moderno ou próximo da música Eletrônica tangente ao Hip Hop ou o seu minimalismo pesado, justificados com um baixo que parece tremer até o último osso do ouvinte. Tanto o lado vanguardista como o antigo podem andar lado a lado nos tempos atuais, mas desfrutar de um álbum que se preocupa sobretudo com as batidas criadas de forma vintage é um privelégio que aos poucos vamos podendo aproveitar, sem retornar tão frequentemente aos clássicos. Blu cria aqui um trabalho que mesmo sendo duplo não te cansa em nenhum momento apesar de um formato padronizado em seus samples de Soul e quebras: as participações especiais trazem vozes novas a cada faixa enquanto o próprio se engarrega de linhas de verso inspiradíssimas. Temos, no entanto, uma trilha sonora coesa e perfeita para ser escutada em deslocamentos físicos ou mentais em um dos melhores momentos do gênero no ano.

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ARTISTA: Blu
MARCADORES: Hip Hop, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.