Resenhas

Ben Frost – A U R O R A

Músico australiano cria uma interessante linha narrativa construída em sons não necessariamente musicais

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Ano: 2014
Selo: Mute Artists
# Faixas: 9
Estilos: Experimental, Experimental Eletrônico, Instrumental
Duração: 40:21
Nota: 4.0
Produção: Ben Fost

A U R O R A não é um disco gostoso de ouvir e você dificilmente vai separar uma das suas músicas pra escutá-la isoladamente. Mesmo assim, recomendo que você ouça este álbum, principalmente se você for desses que se interessam por filosofia por trás da arte e da música. Não me refiro aos pedantes, mas àqueles que gostam de observar as possibilidades que as linguagens possuem hoje em dia – nós, os curiosos. Se for o seu caso, vamos lá.

Ben Frost criou uma obra mais narrativa do que um álbum convencional. É “instrumental” porque não tem letra, mas nem sempre tem instrumentos muitos distinguíveis, já que grande parte é construída por ruídos e sons vindos de diversas fontes e referências- daquele zumbido que as TVs menos recentes faziam até turbina de avião. E, olha, é muito interessante.

O australiano, residente na Islândia, tem experiência. Afinal, este é seu segundo trabalho. E o que mais me chama a atenção aqui é o aspecto narrativo que o disco tem. Repito: Não é um álbum que você vai ouvir aquela tal faixa. Não, é pra você dar o play e ouvir ali de uma vez.

Dá uma certa impressão que você tá ouvindo uma enorme música de 40 minutos, ou uma espécie de sinfonia contemporânea, com mudanças de clima ao longo de sua progressão. A primeira faixa é mais silenciosa e funciona em conjunto com a próxima, Nolan, que impressiona (para não dizer “choca”) com o quanto rompe com a linha narrativa da anterior. As duas são quase extremos do disco em intensidade, mas ele oscila bastante ao longo das músicas.

Fico com a impressão que a audição vem mais em formato de experiência do que qualquer outra coisa. É como um filme que você sabe que terá esta ou aquela qualidade que você nem sempre procura em entretenimento, mas vale sentar no cinema por duas horas pra acompanhar aquela história. Lembre-se que, da mesma forma que acontece com imagens, os sons também trazem lembranças e associações a pessoas, lugares, sentimentos ou o que quer que você tenha guardado dentro de si. Ao ouvir as faixas seguindo as oscilações de humores, essa resposta interna de figuras mentais é muito interessante.

Me fez pensar bastante em quanto a música dita Experimental ou vanguardista hoje está próxima (você não precisa ir a uma galeria obscura para ter acesso a isso, está no mesmo serviço de streaming com música Pop, Sertanejo ou qualquer exemplo do mainstream que você quiser usar) e também em como há músicos dedicados a um trabalho mais sensorial.

Interessante. Experimente.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.