Resenhas

clipping. – CLPPNG

Existe espaço para a criação de sons acessíveis no experimentalismo do Hip Hop Alternativo

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Ano: 2014
Selo: Subpop
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop, Eletrõnica
Duração: 55:31
Nota: 3.0
Produção: Jonathan Snipes, William Hutson

Uma das alternativas dentro do meio musical para conseguir resumir e passar o máximo de informações para ouvintes que jamais escutaram uma banda nova é a caracterização. Como indicar em palavras um som? Rotulando um gênero ou simplesmente relacionando o elemento a ser analisado a outro artista um pouco mais bem estabelecido. Foi assim que o trio californiano clipping. surgiu como um novo Death Grips, o violento, colérico e barulhento ato de Hip Hop da cidade Sacramento. Obviamente, uma simples escutada em CLPPNG, disco que tenta estabelecer uma identidade sonora aos produtores Jonathan Snipes e William Hutson, unidos agora ao rapper Daveed Diggs, pode mostrar alguma semelhança entre ambos, sobretudo artística, no entanto, um olhar e ouvido mais atento nos sinaliza que estamos diante de algo bastante diferente.

Se em Government Plates – díficil, complexo mas ótimo disco de Death Grips – tínhamos a sensação de uma urgência do grupo em tirar o ouvinte de Hip Hop de sua zona de conforto, confrontando-o a sons experimentais, Noise e muita violência sonora em sua obra mais acessível, clipping. joga tudo isso pro alto e já se coloca em um formato muito mais Pop, apesar do rótulo de Alternativo que sempre o acompanhará. Irritar o ouvinte e mostrar que talvez se possa criar batidas a partir de qualquer som sequenciado em loop podem ser vistos na pertubadora Get Up, com o som de um despertador ao fundo, ou mesmo em Intro, com seus versos diretos, rápidos e secos. No entanto, aos poucos podemos nos deliciar com faixas que seguem o caminho totalmente oposto e que aguçam nossos ouvidos.

É o que acontece em Body & Blood, que segue a estética do Hip Hop alternativo iniciado com Yezzus – baixos vibrantes em uma atmosfera urbana que ainda se mostra agressiva. Mas faixas vão aparecendo e os ânimos são acalmados ao poucos. Work Work, com a participação de Cocc Pistol Cree, caminha de forma gostosa no campo onírico, com sua percussão minimalista e um drop de batida perfeito. O som é dançante, algo que Death Grips dificilmente consegue ser com sua atitude Punk, e Diggs, apesar de sua capacidade em versar rapidamente como se alguém estivesse brigando com ouvinte, mostra sua capacidade melódica ao preencher muito bem os espaços dessa ótima produção. A partir deste momento, podemos perceber que o objetivo é se tornar muito mais acessível que as suas próprias influências e está é a identidade do grupo.

A psicodelia toma conta de Summertime com lasers de brinquedo e uma frequência estridente de fundo, enquanto Tonight é o mais próximo que o grupo pode chegar das pistas menos alternativas de Hip Hop. Para quem esperava um tremendo soco sonoro, podemos dizer que este ímpeto violento existe em alguns momentos, como a confusa Or Die ou a obscura Taking Off, com uma linha de baixa pausada que entra na cabeça na primeira repetição e os versos incansáveis de Diggs. A escolha de um rapper para verbalizar uma produção experimental acaba se mostrando o encaixa perfeito: o timbre de voz de Daveed não é usual, assim como as batidas que o acompanham, mas ambos conseguem mostrar melodia quando necessário, como o sample de saxofone que surge de forma surpreendente em Taking Off, ou o refrão acessivel de Tonight. Vale ressaltar também a bela referência ao ícone Notorious B.I.G no refrão de Dream, relembrando os versos de seu clássico Juicy com uma aura funébre e distinta, o que cria uma experiência totalmente nova.

CLPPNG mostra que, se estamos em um mesmo limiar sonoro, passível de uma descrição como “isso parece Death Grips”, estamos ao mesmo tempo diante de uma banda que podemos indicar para ser escutada em mais momentos que o influente grupo de Sacramento, este díficil de ser escolhido como uma trilha sonora diária para o trabalho, por exemplo. Vemos que clipping. está dentro do Hip Hop Alternativo de Tyler , the Creator ou Jeremiah Jae, mas com espaços para suas batidas figurarem entre novos nomes da EDM, como Flying Lotus ou Seixlack, e com os versos de Diggs, em sua espécie de poesia lírica falada em muitos momentos, temos a combinação perfeita para trazer o grupo mais perto do público.

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ARTISTA: clipping.
MARCADORES: Eletrônica, Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.