Resenhas

Lily Allen – Sheezus

Coroado pelo bom senso e acidez, o Pop inglês ganha notáveis pontos com retorno da artista

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Ano: 2014
Selo: Parlophone
# Faixas: 14
Estilos: Pop, Indie Pop, Neo Soul
Duração: 49:20
Nota: 4.0
Produção: Greg Kurstin, Shellback, DJ Dahi
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fsheezus%2Fid839186888%3Fuo%3D4%26partnerId%3D2003

O tempo passou. Lily Allen tem agora 29 anos, filhos pra criar e uma safra de cantoras novinhas está preparada para mostrar as coxas e o máximo de seu potencial vocal para se tornar a nova artista Pop da geração. O melhor de tudo é que Allen sabe muito bem de tudo isso e definitivamente conhece a melhor maneira de se vender no meio sem ter que se equiparar às demais. A inglesa não faz o caminho inverso, mas uma curadoria do que melhor lhe cabe, e apresenta o trabalho Sheezus como uma bela piñata de aniversário: Implicitamente preparado pra ser “destruído”, mas ainda assim pronto distribuir doçura pra todos os lados.

A acidez introdutória de Lily em Smile, na qual a cantora busca a melhor maneira pra se vingar de seu namorado, é readaptada agora ao cenário atual da cantora. No decorrer do trabalho, ela aborda sem medo o fato de estar se reinserindo na mídia e como isso a assusta e perturba, mas sempre de uma maneira crítica, ciente e cômica. A faixa-título e que abre o disco mostra o quão antenada a artista está.

Em ritmo desacelerado e recheado por batidas firmes e não muito grandiosas, a canção é conduzida por Lily Rose Cooper, alfinetando aqui e ali nomes consagrados, como Lady Gaga, Rihanna, Beyoncé e até Lorde, sobre a eterna batalha de existir apenas uma rainha da música Pop. Ela toma pelas mãos a coroa da consciência e cria um título soberbo próprio com o nome “Sheezus”, referência brincalhona ao disco de Kanye West, Yeezus, mas adaptado ao universo feminino de maneira mais jocosa.

O primeiro clipe da nova fase de Allen, para a canção Hard Out Here, também reforça a ideia da musicista sobre o meio musical. Junto à sua mais dançante e radiofônica composição, ela negocia com seu empresário aparições na TV enquanto passa por uma lipoescultura de última hora em busca do sucesso. A genial ideia mistura-se a cenas da própria comendo uma banana da maneira menos sexy possível e tirando onda consigo mesma, dançando ao lado de balões com a inscrição “Lily Allen Has A Baggy Pussy”, dando uma cutucada de mestre no vídeo do machista hit de Robin Thicke, Blurred Lines.

Toda a munição adocicada da inglesa não vem permeada também só por argumentos e cutucões diretos e indiretos – Uma gama de sons é explorada pelo terceiro registro. Não é de hoje que Soul e R&B são gêneros que encantam Lily Allen e aqui eles reverberam em bonitas canções por meio de Insincerely Yours, faixa embebida da música negra vivaz dos anos 90, ao passo de nomes como Aaliyah, ou em Close Your Eyes trazendo um Soul envolvente na mesma energia de Drivin’ Me Wild, que gravou com Common. URL Badman revive o Dubstep sem pesar no caricato e As Long As I Got You tem potencial pra hit Country da vez, como Not Fair foi para It’s Not Me, It’s You (2011). Vale ressaltar também a romântica e triste versão de Somewhere Only We Know, originalmente composta por Keane, mas que apropriou-se tão bem ao timbre da jovem que poderia ser sua.

Lily segue firme em sua linhagem que desafia a previsível agenda da música Pop, esquivando-se dos maneirismos mais óbvios dos grandes selos através de hits que ao mesmo tempo que desafiam em letras, abrandam em sonoridades fáceis e assimiláveis, tudo isso em um disco de quase uma hora que não enjoa e ainda é carregado de bom humor. Sim, o tempo passou, mas de fato nem parece, já que a cantora segue tão próxima de suas convicções, porém cada vez mais ácida e preparada para um contra-ataque.

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BOM PARA QUEM OUVE: , Kimbra, Kate Nash, Sia
ARTISTA: Lily Allen

Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.