Planet Hemp faz a cabeça do público em um dos melhores shows do Lollapalooza

Banda representou muito bem o cenário musical nacional e expôs a sua mistura de Rap-Rock & Roll-Psicodelia- Hardcore-Ragga encerrando um hiato de dez anos sem tocar na capital paulista

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Fotos: Victor Nomoto

No ano passado, quando o Lobão resolveu não aceitar o convite para tocar no Lollapalooza ao não concordar com o horário disponibilizado para as bandas brasileiras, muitos acreditavam que ele estava sendo somente um reclamão. No entanto, no último dia do Lollapalooza, o Planet Hemp demonstrou que o Rock Nacional ainda respira em um tremendo show que encerrou as atividades no palco Butantã.

Com uma produção que possivelmente não foi vista em outros concertos no festival – e não digo em relação a somente brasileiros, mas a estrangeiros também – a banda encerrou uma espera de dez anos, desde seu último concerto na capital paulista. Muitos dos presentes jamais tinham visto o grupo ao vivo, que retornou nos últimos dois anos para shows esporádicos e pontuais pelo país. Da formação original de cantores, restam os MCs Marcelo D2 e BNegão, que não deixam nada a desejar e fazem esquecer momentaneamente que o grande Black Alien não faz mais parte do grupo.

Logo de cara, antes da banda entrar, um vídeo iniciava a apresentação. Nele, o humorista e membro do Hermes e Renato, Jaime Gil da Costa, o famoso Away, apresentou uma espécie de jornal televisivo abordando as manifestações Pró-Maconha. O que parecia inicialmente um excerto voltado ao humor, tomou um tom mais sério, com propostas sendo colocadas na mesa por Away, assim como um discurso contra a “cachaça”. Enfim, já poderíamos ver o que viria pela frente na intensa e acelerada apresentação do grupo.

Dividido em três atos, cada um retratando uma fase e quase um disco da carreira do Planet Hemp, o concerto não deixou nenhum hit da banda de fora. Iniciando com O Usuário e A Luta Pela Legalização da Maconha, Bnegão e D2 começaram jogando porradas atrás de porradas, começando por Legalize Já, Dig Dig Dig (Hempa) e chegando até Mary Jane. Aliás, nenhum show em todo o festival teve a participação do público como neste. Seja através das diversas rodas de bate-cabeça, que abriam vãos no meio de um aglomerado de pessoas, ou nas letras que nunca se perderam na memória de cada um dos presentes.

Vídeos bem produzidos eram exibidos a cada faixa, um, por exemplo, com os integrantes e pessoas comuns fumando, e outro, ensinando técnicas de “fabricação” de baseados. A segunda parte teve Os Cães Ladram Mais A Caravana Não Para com Quem tem Seda? em isqueiros ao alto, comandos pelos MCs. Já em Queimando Tudo, um clipe feito em Stop Motion com bonecos da dupla Cheech & Chong faziam alguns darem risada enquanto outros interagiam mais freneticamente. O interessante da apresentação é que como ela abordava a carreira do grupo, qualquer um que estivesse sendo iniciado naquele momento poderia perceber a clara mudança em seu som, passando pelo Hardcore e Rock & Roll, até a fase final do grupo, mais concentrada no Hip Hop e no Groove.

No entanto, foi no terceira ato, A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, que duas pancadas foram tocadas: Ex-Quadrilha da Fumaça e Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga. Antes de tudo se tornar caótico, Stab e principalmente Contexto fizeram todos cantarem os últimos grandes sucessos da banda deste disco de 2000. Esta última, aliás, que tem um verso bem famoso do Black Alien, foi entoado pelo público como se o MC estivesse presente. Quando todos achavam que o show já havia acabado, ainda sobrou espaço para outras músicas como A Culpa É de Quem? e o cover de Samba Makossa, de Chico Science & Nação Zumbi e trazida como homenagem ao cantor Chorão, falecido no último mês e que havia apresentado esta faixa junto a D2 e o Charlie Brown Jr. Encerrando com uma de suas melhores músicas, presente no disco Usuário, Mantenha o Respeito acabou com uma espera de mais de dez anos para ver a banda de novo em São Paulo.

No melhor show de uma banda nacional no festival, e uma das melhores produções de todos os concertos realizados, Planet Hemp fez a cabeça de todos os presentes e proporcionou um momento ímpar em todo o festival. “Até daqui a dez anos” disse D2, antes de sair do palco. Será mesmo? Independente de tudo, foi uma mostra de que, no final das contas, Lobão estava certo, existem bandas nacionais que merecem espaços e horários mais convidativos. Mas talvez nem todas cumpririam o papel que este grupo fez no domingo de Páscoa. Showzaço.

(Foto de Victor Nomoto)

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ARTISTA: Planet Hemp

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.