The Killers finalmente voltou ao Brasil, mas nada parece ter mudado

Banda fez show cheio de sucessos, mas previsível e que não se importou em surpreender um público que ficaria satisfeito com qualquer coisa vinda da banda de Brandon Flowers

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Fotos: Foto: Cambria Harkey

Uma vez, aprendi que não se aproveita uma leitura sem conhecer o contexto em que aquilo foi escrito e qual a relação do autor com o objeto de discussão. Por isso, conto que já gostei muito de The Killers, fui ao último show da banda no Brasil em 2009, curti como se não houvesse amanhã com muita chuva e com a Chácara do Jóquei alagada até as canelas naquela noite. Tenho Blu-Ray deles no Royal Albert Hall e conheço grande parte das letras de cor (ok, isso não é tão raro assim). Com o passar dos anos, fui conhecendo muita coisa nova e naturalmente meu interesse pela banda foi diminuindo, sem nunca me esquecer dos momentos bons que me proporcionou, mas entendendo que, assim como ler os sete livros do Harry Potter ou comer Tortuguitas, tudo tem seu tempo e não adianta forçar, aquela fase apenas passou.

Antes de começar finalmente a contar sobre o show, queria jogar uma reflexão sobre “o que faz um bom show?”. Também não tenho muita certeza da resposta, mas sempre me pergunto isso. Será que vai da qualidade da performance do artista ou vale mais a empolgação do público? Será que uma boa apresentação acontece quando a banda consegue traduzir fielmente aquilo que estava na gravação ou os momentos surpreendentes de improviso é que tornam a experiência inesquecível? Eu costumo ter minha maneira nada científica de medir a qualidade de um show, que é a minha vontade de ouvir a banda após a apresentação. Vou, portanto, tentar descrever um pouquinho de como eu vi a apresentação do The Killers, segundo os critérios que citei acima.

Brandon Flowers e companhia subiram ao palco já mandando de cara a certeira Mr. Brightside para acordar boa parte da galera que estava em transe, ainda absorvendo a incrível apresentação do The Flaming Lips. Nesse momento, eu praticamente ignorei tudo que descrevi no primeiro parágrafo sobre o declínio do meu interesse pela banda e lembrei do quando já me diverti com aquilo, seja ouvindo sozinho estudando para o vestibular, no show, no metrô, vendo o clipe na TV ou mesmo em uma das diversas vezes em que me imaginava (ok, ainda faço isso) como um cantor muito famoso fazendo uma multidão cantar comigo. O público já mostrou a que veio também de primeira, pulando em perfeita sincronia e cantando cada verso da música, gemendo junto até nos momentos instrumentais.

A partir daí, a magia começou a ir embora aos poucos. A artificialidade das faixas de Battle Born fica ainda mais evidente ao vivo, pois foi para este momento que elas foram pensadas, então você sabe quando Brandon irá saltitar, quando virará o microfone para a plateia, quando soltarão fogos e, se já assistiu a algum show deles antes, mesmo que há quase cinco anos, a previsibilidade é maior ainda e isso me incomoda um pouco. Para completar, tentou falar português, assim como a maioria dos artistas internacionais, mas em Brandon, tudo parecia mais planejado, menos espontâneo.

Em hits como Somebody Told Me, Human ou All These Things That I’ve Done, foi muito divertido ver 50 mil pessoas cantando juntas, balançando os braços e mostrando por que os gringos gostam tanto de vir para cá. Mas, além disso, o show foi morno, com a banda seguindo fielmente o roteiro que escreveu para repetir por toda a turnê, sem nenhum sinal de reciprocidade de carinho sincero com o público, ou algo do tipo. Não vale nem entrar na discussão sobre a qualidade da música, já que isso é papel para nossas resenhas de álbum. Aqui é o momento de discutir o show, a experiência da banda ao vivo e isso aos olhos de alguém que a conhece, mas já não se encanta com qualquer coisa e não se contenta com pouco. Não chegou nem a ser decepcionante, pois de certa forma, mesmo com uma pequena chama de esperança de presenciar alguma surpresa, já esperava isso deles.

The Killers, portanto, teve uma boa performance no palco, o público mereceu nossa nota de cinco bananinhas sem pestanejar e a banda executou muito bem as versões de estúdio. O problema é que, a cada música, sentia mais falta de algum pequeno sinal que me mostrasse que eles estavam ali, por algum motivo além da maioria dos artistas Pop. Não condeno de maneira nenhuma levar tudo como um trabalho, como um emprego, mas não é isso que me fez gostar de música e tenho certeza que não foi isso que os fez começarem. Como li em algum post perdido na rede mundial de computadores, “o populismo de Brandon não me engana”.

Meu saldo final foi sair me achando um pouco bobo por ter levado a banda tão a sério e realmente esperar algo além do que vi. Os músicos estão acomodados e chego a pensar que nunca foram diferentes. Só acho que, para quem tem fãs tão dedicados e que esperavam tanto por aquele momento, a banda podia oferecer um pouquinho mais, só um pouquinho. Para quem ficou curioso sobre meu critério de avaliação, minha cópia de Hot Fuss e meu Blu-Ray do Royal Albert Hall vão continuar a acumular poeira por tempo indeterminado.

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ARTISTA: The Killers

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.