Fatima Yamaha: Globalização Eletrônica

Produtor DJ holandês é responsável por projeto

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Há alguns detalhes interessantes por trás de Fatima Yamaha que podem, inclusive, trazer algumas verdades inconvenientes. Talvez seja bom você saber, antes de mais nada, que ela é um cara, no caso, o produtor e DJ holandês Bastian “Bas” Bron. E que a vida imaginada para ela, a de uma jovem, filha de japoneses e turcos, vivendo no meio de uma globalização estranha e sem muitos efeitos, expurgada ela Música Eletrônica é um conceito bolado por Bas. Sim, a vida é assim mesmo, gente.

Na verdade, quem é fã das obras do cara já está careca de saber a verdade sobre Fatima. Também sabe que Bas é um sujeito fluente numa música cheia de referências elegantes aos anos 1980/90, com batidas aveludadas e senso melódico elevado. Ele tem vários projetos e vários pseudônimos em sua terra natal, mas talvez seja como Fatima Yamaha que ele tenha encontrado a melhor forma de expressão. Há uma certa delicadeza em suas criações, não sendo possível imaginar uma multidão feroz pulando ao som de suas canções. Não entenda mal, todas são feitas para a diversão dos movimentos, mas não há razão para que eles sejam tão intensos assim. É tudo fluido, quase lento, quase numa rotação mais desacelerada, mas chique e cheio de estilo.

São dois belos álbuns no currículo da “moça”. Imaginary Lines (2015) e A Girl Between Two Worlds (2013), cada um bem legal e com luz própria. O primeiro tem pequenas pepitas climáticas como Borderless II e o pequeno hit Love Invaders, na medida certa para uma apreciação nos moldes de um bom vinho, com calma e percepção apurada para detalhes. Citizens, com participação da cantora compatriota Sofie Winterson, já é mais próxima daquela Sibéria technopop perseguida por alguns grupos nos anos 1980, com sintetizadores que parecem estalactites e uma voz de diva ecoando ao longe. Aqui o clima é recriado com precisão.

O primeiro álbum evoca a mistura étnica e social que o nome artístico sugere. Faixas como Sushi And Baklava ou At A Foot Of Mt. Arratat mesclam um chantilly de World Music com batidas mais vigorosas, configurando este disco mais para a pista de dança na base do “como se não houvesse amanhã’. Mesmo assim, há mil detalhes por toda parte, esperando para serem apreciados como convém.

Fatima/Bas vai oferecer um banquete de boas sensações e sonoridades moderníssimas ao público do Dekmantel. O produtor e DJ é uma espécie de “prata da casa” e não vai deixar barato. A conferir.

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MARCADORES: Aquecimento

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.