HAIM – A Espera Pelo Segundo Disco

Trio de irmãs tem no equilíbrio o segredo do sucesso

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Não sei se os mais jovens lembrarão de uma propaganda televisiva de uma marca de biscoito. O texto propunha um dilema: é fresquinho (no sentido de crocante, apetitoso) porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho? Este marco da propaganda eletrônica brasileira me veio à mente quando chegou a sugestão de pauta para este simpático artigo sobre as irmãs Haim, que estão prestes a lançar seu novo trabalho, intitulado Something To Tell You. O que podemos esperar dessa nova leva de canções inéditas? Manterão as meninas o nível de qualidade de Days Are Gone, sua estreia, lançada há quatro anos? O quê elas têm que você gosta tanto e quer ouvir sempre, de novo, sem parar? Vamos investigar.

Em primeiro lugar, é preciso considerar que Este, Alana e Danielle Haim estavam no lugar certo na hora certa. A precisão geográfica desta afirmação aponta para San Fernando Valley, Califórnia e o referencial temporal marca a virada dos anos 1980/90. Nasceram numa família musical de origem israelense que introduziu as meninas ao universo infalível do Pop Rock americano dos anos 1970, especialmente a maior banda desse estilo na época, Fleetwood Mac. Mesmo com essa condição especial, as garotas poderiam seguir qualquer carreira, mas impregnadas pelo clima, logo estavam envolvidas com uma banda de casamentos familiar e em inevitáveis projetos de garagem nos tempos de colégio. Afinadas e com talento, não tardaram a se destacar. Dentres as três, Danielle foi a que vivenciou a fama e a rotina de shows em primeiro lugar, quando integrou a banda de apoio de Jenny Lewis, quando esta debutava em carreira solo, logo após deixar seu grupo, Rilo Kiley. Não bastasse a belezura desta situação, Lewis também sempre foi uma artista influenciada pela mescla magistral que Fleetwood propusera nos anos 1970.

Um belo dia, ninguém menos que Julian Casablancas estava na plateia de uma apresentação de Jenny e a performance de Danielle chamou sua atenção. Tanto que ele a convidou para integrar a banda que o acompanharia em sua primeira excursão solo. Coincidência? Nada disso. A menina novamente se destacou, empunhando guitarra e fazendo vocais de apoio. Quando voltou da turnê, ela e as irmãs sabiam que não havia como evitar o destino. Formaram a banda, junto com o baterista Dash Hutton e começaram a fazer pequenos shows com covers e algumas canções próprias. Em pouco tempo já estavam contratadas por uma grande gravadora e com carta branca pra produção de um primeiro álbum, justamente o ótimo Days Are Gone, lançado em 2013.

E, afinal, qual o segredo do sucesso rápido dessas três? Simples. Além de habilidade vocal e no manejo dos instrumentos, a receita musical de Haim é bem conhecida: fazem o bom Pop Rock que aprenderam em casa, com infusões de R&B, Synthpop oitentista e umas malandragens que só confirmam o quanto as moças são boas. A produção do primeiro disco ficou dividida entre Ariel Rechtshaid e James Ford, caras com tráfego e desenvoltura nos universos da música para dançar e do Rock contemporâneo. Temperaram as composições do trio de irmãs – sim, elas compõem tudo o que gravam – com uma pilotagem de estúdio segura e cheia de atenção nos timbres e valorizando refrãos, sem muita firula e indo direto ao coração dos potenciais fãs.

Não por acaso, a popularidade do grupo foi ao teto na Inglaterra, fazendo com que a banda excursionasse pelos famosos festivais do verão europeu em 2013, com enorme sucesso. Não por acaso, repetiram a participação em 2016 e retornam neste ano. A participação em trilhas sonoras para o cinema – algo tristemente raro hoje em dia – também contribuiu para mais e mais visibilidade. Dois arrasa-quarteirões adolescentes, no caso, Jogos Vorazes – A Esperança Parte 1 (com Meltdown) e Insurgente (com Holes In The Sky) só serviram para jogar gasolina na fogueira de sucesso do grupo, arremessando-as para um patamar bem maior.

Esse equilíbrio entre guitarras, batidas eletrônicas gera uma fluência pop rara de se ver hoje em dia. A julgar pelas novas canções já liberadas na Internet, esta característica se manterá no novo trabalho. Little Love, a mais recente, é uma belezura de batidão R&B mais tradicional com harmonias vocais que podem ser moderníssimas mas devem ao padrão angelical de grupos femininos dos anos 1960. Right Now vai mais pro lado épico, com teclados grandiosos, guitarras apitantes, impressão de que mundo vai se acabar a qualquer instante e não notaremos até que seja tarde demais. Want You Back fecha essa trinca com maestria, bastante eficaz na construção de um clima de crescendo, com expectativa sendo gerada e um abraço a uma batida mais pop e cadenciada lá pela metade, com ótima performance vocal das irmãs.

Certamente não é por acaso que estamos na expectativa do novo álbum, que promete dar continuidade a esta demonstração quase empírica de bom Pop, talento e malandragem encantadora. É esperar pra ver mas já pode ir balançando os pés como aquecimento.

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ARTISTA: Haim
MARCADORES: Artigo, Novo Disco

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.