Darkside – A segunda Face de Nicolas Jaar

Projeto paralelo de um dos melhores artistas da cena Eletrônica atual mostra que estamos diante de um músico grandioso

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Nicolas Jaar é um daqueles poucos exemplos na indústria musical que logo de cara já denota um futuro brilhante pela frente. Sempre nos vemos presos a esta expectativa ao redor de artistas e não sucumbir ao hype se torna uma tarefa árdua, mas pergunte a produtores, DJs e membros da indústria para notar o brilho nos olhos quando se fala sobre o jovem músico americano com origens chilenas. Talvez só equiparado a Jamie XX em termos de clamor não só popular como crítico, ambos parecem ser daqueles músicos que ainda iremos inevitavelmente ouvir por aí, seja boca a boca ou em um ambiente musical propício. Mas o que os diferencia?

Entrando nos méritos de Nico somente, podemos dizer que o produtor expandiu as fronteiras sonoras de um dos poucos gêneros que ainda consegue se tornar inovador nos tempos atuais, a EDM. Sigla para electronic dance music, a vertente é gigantesca em termos de subgêneros e artistas, e os seus limites dividem-se entre a criatividade de artistas e capacidade de softwares e formas de produção. Quando Jaar lançou em 2011 seu único disco, Space Is Only Noise, algo no ar se mostrava distinto: camadas texturizadas se misturavam a ambiências como barulhos de chuva e bolas de pingue pongue quicando. Sintetizadores e samples, usuais em toda indústria eram divididos com um vocal grave, monotônico como o som que ecoa ao se bater em um bloco de mármore enquanto uma escolha artística ia no caminho contrário da época, a escolha por 105 bpm ao invés dos 128 bpm comuns na House Music, por exemplo. Descrevendo dessa forma, pode até ser difícil imaginar o som vindo deste artista, no entanto uma simples audição se mostra inesquecível e chocante mesmo nos tempos atuais.

Sintetizando tudo isso, podemos considerar que Nico abraça no título de seu primeiro álbum um som etéreo e espacial, mas em um sentido muito mais amplo que uma imagem lunar ou marciana pode trazer. Espacial porque expande-se no espaço do ouvinte, seja através de fones de ouvidos ou aparelhos hi-fi, e consegue preenchê-lo nos minímos detalhes com texturas extremamente harmônicas. Seus shows começaram a ser ainda mais valorizados quando suas apresentações eram acompanhadas de instrumentação ao vivo, algo pouco comum na maioria dos “lives” que vemos por aí. Seu domínio do piano clássico, misturado a todos os efeitos sonoros, o mostrava ao vivo não só um produtor, mas um músico também – vale ressaltar que esta linha se torna cada vez menos tênue nos dias atuais devido a praticidade e ambrangência de softwares e ferramentas. Uma apresentação de Jaar no Boiler Room de Nova York, mostrando o músico criando batidas e músicas a partir de frequências radiofônicas vindas de um boombox, é um só pequeno exemplo que pode comprová-lo como um ponto fora da curva.

Workaholic como todo bom produtor deve ser, Nico Jaar criou um projeto paralelo no mesmo ano em que despontava no mundo musical. Em conjunto com Dave Harrington, amigo e colega da Brown University, Darkside pode ser considerado o lado oposto de seu trabalho solo, apesar de evidentes elementos comuns. Dave traz o contraponto orgânico que Jaar sempre buscou, seja através de gravações de elementos naturais ou samples, ao mesmo tempo em que aproxima o seu som de um Blues moderno. “A sonoridade mais próxima de Rock & Roll que eu já realizei”, afirmou Nico em uma de suas entrevistas – e não é a toa, pois a incoporação de um guitarrista às suas produções acabou expandindo ainda mais a sua fronteira sonora. Pegar um elemento usual e acrescentá-lo as suas constumeiras imaginações aéreas acabou por trazê-lo mais próximo ao chão.

O espaço continua sendo o seu meio de conciliar todas as suas inspirações, mas a sonoridade de timbres de guitarra e riffs precisos, como em Paper Trails ou Golden Arrow, nos leva a novas formas de criação de música Eletrônica e logo temos um som bastante distinto na cena atual. Visto de forma bruta, a música Eletrônica misturada com elementos orgânicos não é nada inovadora e é aí que entra o elemento de um músico e produtor fenomenal. O ambiente criado em Psychic é verossímil com sua obra e tão sexual quanto, mas, ao mesmo tempo, toma um outro rumo, principalmente pelas apresentações ao vivo do projeto. Elas demonstram desconstruções sonoras de suas faixas e a arbitragem para improvisar fora de programas e computadores (ambos são usados, mas de forma moderada), servem para que os músicos possam imaginar novas formas de apresentar-se, criando experiências sonoras distintas a cada show que realizam. A sua voz grave se encaixa melhor agora em um formato Blues/Rock & Roll e nos leva a imaginar o que pode vir dos futuros projetos de Nicolas. Algo que se mostra preciso em toda a sua obra é a capacidade de demonstrar que seu som e inspirações já servem de pedras fundamentais para diversos músicos, produtores novos e que, sim, ainda iremos ouvir e vê-lo por muito tempo.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.